domingo, 26 de dezembro de 2010
Diário de um homem recém-casado.
Estou aqui, meus caros, para esclarecer as mulheres. Digo, na medida do possível.
(CONTINUA...)
...
Metamorfoseadas em sentimentos,
palavras compostas,
atos,
movimentos.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Tudo é possível.
- Impossível!
- Tudo é possível.
- Só se for em filmes... na vida real não é assim.
- E o que seria dos filmes se não houvesse a vida real?
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
De fato, rever a vida é notar que estamos sós.
É estranho esse sentimento constante de que sempre me falta algo.
Intrigo a mim mesma. Conheço mais aos outros do que a mim.
Mas, ainda aprecio a minha própria companhia.
O problema, é que eu amo demais, compreendo demais, dou valor demais.
E, infelizmente, não posso esperar isso de todos os que me rodeiam.
Sussurros ordenam que minhas mágoas não fiquem guardadas.
Elas, então, transbordam pelos olhos.
Nem sempre o choro tem motivo concreto. Não para mim.
Sinto que não sei mais escrever; não sei mais sorrir; não sei mais cantarolar e dizer que a vida é bela.
Sim, a vida é bela. Porém, cada um a vê de uma forma.
E a forma como a vemos, volta-se para nós. Reflete-se em cada um de acordo com seu ponto de vista inicial.
Ou seja: da mesma forma que você enxergar a vida, ela te enxergará.
Tudo não passa de um movimento contínuo que parte de nós mesmos.
Mas, se eu mal vejo a vida, como farei para que ela me veja?
Ser precoce tem me feito sofrer demais.
Não quero mais estar nesse mundo.
Não enquanto ele for feito de frieza e individualismo.
Sinto que não sei mais viver.
De fato, rever a vida é notar que estamos sós.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Seres que Somos.
feitos de sonhos.
Sonhos são quase como somos:
seres.
Raro é o ato
de orar.
Rever a vida
é notar que estamos sós.
Seres:
Somos quase como sonhos.
Sonhos feitos
de seres que somos.
(Eu e minha estranha mania de olhar as palavras de trás pra frente...)
sábado, 16 de outubro de 2010
Som do silêncio.
Não há nada nesta noite que me faça lembrar de quem eu sou, ou onde estou.
Não há sonoridade alguma no resto desse dia tão irrelevante.
Ouço, apenas, minha respiração e as batidas do meu coração aflito.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
"Jailton e seu coração apaixonado''
Eu já fui preparando a cadeira acolchoada, forrada com couro surrado, pra ela se sentar, o meu banquinho bambo de madeira e a mesa pro nosso jogo de cartas e nosso lanchinho.
- Boa tarde, Jailton, meu filho – sim, ela praticamente me adotou!
- Boa tarde, senhora Matilde!
- Senhora nada, me chama só de Matilde... hehehe.
- Ah, sim! Pode se sentar, Matilde!
- Hoje trouxe pães de queijo, não deu tempo de fazer o bolo de chocolate, eu trago amanhã pra você!
- Mas não se preocupe, sen... Matilde! Não se preocupe com isso.
- Pra mim é um prazer saber que tem alguém pra dividir comigo o bolo de chocolate, meu filho, acredite! A propósito... vou te fazer uma pergunta e quero que você seja bem sincero, tudo bem?
- Claro.
- Eu ando incomodando a você com essas minhas freqüentes visitas?
- Pelo contrário, sen... Matilde!
- Tem certeza? Porque o que eu menos quero é prejudicar o seu trabalho, meu filho...
- Sim, eu tenho certeza! Acho que nos encontrarmos, é bom pra nós dois... pois não ficamos sozinhos.
- Ah, então tudo bem, já que você diz... hehehe. Hoje vamos jogar o que? Buraco?
- Às suas ordens! Buraco!
- Hehehe... Pode ir pegando uns pães de queijo, coma a vontade!
- Oh, muito obrigado! – E os pães de queijo estavam bons, realmente... senhora Matilde, digo, Matilde, me surpreende cada dia mais com seus novos “quitutes”.
- Hehehe, ganhei!
- Assim não vale, Matilde – estranho chama-la assim... –, a senhora roubou!
- Não roubei nada! Isso são apenas muitos anos de prática, hehehe... Ai ai... eu e Genaro jogávamos cartas todas as noites, tomando chá... nos divertíamos a valer... Eu já contei a você de Genaro, meu falecido marido? – Tinha um ar de melancolia na voz.
- Não, nunca me contou.
- Então agora vou te contar... É, acho que eu nunca falei disso com mais ninguém, a não ser meus filhos. Lúcia, a mais velha, agora mora no Canadá, tem dois filhos e acho que nem se lembra mais da sua velha mãe... hehe... Marco Antônio foi morar lá no Rio de Janeiro, e de vez em nunca me liga! Hehe... – entre uma coisa e outra, Matilde sempre soltava uma de suas risadas cativantes, a procura de mostrar que não estava nem um pouco triste... mas, eu sei que estava. – Então, como eu ia dizendo... Ah! Eu e Genaro nos divertíamos muito, sabe filho. Foram trinta e nove anos juntos... morreu moço, coitado. Jogávamos xadrez, damas, cartas... Bolo de cenoura com calda de chocolate era o preferido dele e de Marquinhos, eu fazia toda semana. Já eu e Lucinha, sempre preferimos o de laranja... Eu me lembro como se fosse ontem... Marco e Lúcia no tapete da sala, brincando, eu e Genaro jogando e tomando chá, o de limão era nosso preferido. Foram tempos felizes, ah, como foram! Só eu sei... mas, dizem que tudo que é bom dura pouco, e é verdade mesmo. Você cuida da sua família com todo o carinho que há no mundo, e depois acaba velha, sozinha e com diversos problemas de coluna, como eu... Hehehe... – acho que o que eu via brilhar no canto dos olhos de Matilde, era uma lágrima; mas ela não a deixou escapar.
- Ah, Matilde... eu nunca fui casado, mas imagino que deve ser muito bom sim... – o que mais eu poderia dizer depois de tudo aquilo que ela me contou? Ai, meu Pai...
- Hehehehe... Mas você vai encontrar sim o seu amor, filho, eu sei que vai! Ainda mais sendo um homem bom, trabalhador e educado como você.
- Oh, senhora, digo, Matilde, fico muito grato pelos seus elogios!
- Imagine, filho, é tudo verdade mesmo... hehehehe...
Depois de longas horas de conversas; melancolia; lágrimas quase escapando pelo canto dos olhos de Matilde; eu abrindo o portão; Matilde contando-me do falecido marido; eu abrindo o portão; Matilde dizendo-me que queria, agora, comprar um gato pra lhe fazer companhia; eu abrindo o portão e dizendo “onde já se viu? Como é que a senhora vai cuidar do bichano?”; ela dizendo que se virava; eu dizendo que era melhor não; ela dizendo que se não era eu que ia cuidar do gato, que não me preocupasse; e eu concordando, mesmo que meu pensamento fosse de total discórdia; ela falando que seria fêmea e se chamaria Pompom; eu pensando em dona Madalena...
- Bom, filho, são oito horas e eu já vou indo, seu expediente encerra daqui meia hora... Nossa, o tempo passou velozmente não é mesmo?
- Como quiser, Matilde. Sim, passou ligeiro sim.
- Amanhã te trago o bolo de cenoura com calda de chocolate... Ah, não, o seu preferido é de chocolate com granulado, já ia me esquecendo, veja se pode uma coisa dessas... Estou ficando caduca, não se assuste filho, hehehehe...
- Não se preocupe comigo, eu gosto de todos os bolos, e a senhora vai faze-lo apenas se quiser – sorri para conforta-la.
- Ah, imagine, amanhã trarei seu bolo de chocolate com granulado, hehehehe. Tenha uma boa noite e cuidado ao voltar para casa, viu? Até amanhã!
- Obrigado, Matilde, até amanhã!
Arrastei a mesa e o banquinho bambo de madeira aos seus devidos lugares e me sentei, na cadeira acolchoada e revestida com couro surrado, de frente pra janela.
Fiquei pensando na vida dessa senhora que me cativa cada dia mais...
Ela praticamente me adotou como filho, né? Ah, mas tudo bem, eu não me importo, pelo contrário! Deve ser difícil ter filhos – de verdade – que praticamente esquecem de que você existe, sendo que você passou anos e anos cuidando deles com toda a sua paciência.
Acho que... acho não, tenho certeza!... depois que começamos a nos encontrar aqui todas as tardes, ela se tornou uma senhora muito mais feliz!
Eu gosto de vir pro trabalho pensando que posso fazer a alegria de uma velhinha bonitinha como a senhora Matilde todos os dias. (É, não adianta, eu tenho mesmo que fazer força pra chama-la apenas de “Matilde”).
E a dona Madalena, por onde andará?
Por que será que ela ainda não chegou?
Será que o ônibus atrasou? Será que aconteceu alguma coisa? Ai, não pensa na desgraça, Jailton, não pensa na desgraça.
Tá tudo bem com a dona Madalena, daqui a pouco ela ta chegando aí, tenho certeza...
Mas daqui vinte minutos eu to saindo, e não posso ficar sem vê-la hoje, poxa vida.
Ai, deixa eu comer aqui os dois últimos pães de queijo que me restam.
Opa, conheço essa voz que vem de longe... É... é a... é a dona Madalena, claro!
Vou sair já pra ver o que é que está acontecendo.
Quando saí, a vi fugindo de dois homens grandalhões e fortes, eu era um nanico perto deles, mas os encarei e fui subindo a rua de encontro com a encrenca.
- O que tá acontecendo aqui? – Eu indaguei, de cabeça erguida.
- Quem tu tá pensando que é, “rapá”?
- Jailton, socorro, esses caras estão me persegui... – antes que dona Madalena pudesse concluir sua frase, o mais forte tampou sua boca com a mão suada e calejada.
Fui pra cima do que acabara de me chamar de “rapá” e dei-lhe um belo soco, que pegou em cheio o nariz batatudo.
Enquanto sofria com o nariz ainda mais inchado, exclamou pro outro:
- Vai, imbecil, faz alguma coisa!
Nisso, o “imbecil” soltou dona Madalena, a quem mandei que corresse até o portão do prédio, para fugir dos grandalhões.
Meti um soco no olho do outro sujeito. Aqueles dois só tinham tamanho mesmo... era um mais idiota que o outro.
Enquanto sofriam com os socos que haviam levado na cara, meti um chute no “ponto fraco” de cada um e corri para abrir o portão com as minhas chaves, e refugiar, então, dona Madalena em meus braços, oh!
- Está tudo bem com a senhorita, dona Madalena?
- Ah, Jailton, eu acho que ainda nem compreendi muito bem o que acabou de acontecer...
- Pois é, foi sorte eu estar aqui de bobeira e escutar a sua voz. D’onde surgiram aqueles dois?
- Estava quase chegando, e os dois me abordaram ali na esquina. Eu acelerei o passo, até que eles começaram a correr atrás de mim e... ah, eu nem sei como te agradecer, Jailton!
- Não precisa me agradecer, dona Madalena, era o mínimo que eu poderia fazer a uma dama em perigo, haha – confesso, sim, que estava um pouco convencido.
- Você foi tão corajoso e cavalheiro!
Agora sim, a tão esperada hora do grande beijo, em que as respirações se encontram, o coração acelera, os rostos se ajeitam de modo que possam se encaixar perfeitamente, as mãos e a testa ficam suadas, eu me aproximo, ela se aproxima, o coração bate cada vez mais forte, aquele arrepio na espinha, as mãos se ajeitam na nuca um do outro, os olhos se fecham, todos os sons parecem ficar distantes, tudo em volta gira, eu acho que vou desmaiar, será que ela se sente assim também?, acho que vou cair duro no chão, não!, estou quase lá, meus lábios quase juntos dos dela, os dela quase juntos dos meus, e... Ela vira o rosto. Simplesmente não acredito que ela vira o rosto. Como pôde?
Agora vem a hora do silêncio constrangedor.
É impressionante, todo beijo parece o primeiro beijo, mesmo que seja o “quadragésimo sei lá quanto” beijo.
É realmente impressionante, me sinto um completo moleque de doze anos.
Ai, estou confuso, será que devo falar algo? Ou será que agora ela vai embora e não me olha na cara nunca mais?
- Ja-ja-jailton, eu vou indo embora... estou tão cansada... preciso tomar um banho e...
- Quer que eu te acompanhe até o elevador?
- Mas você vai deixar a portaria sem ninguém?
- Já acabou o meu turno, são oito e quarenta e cinco, acabou há quinze minutos, o José já deve ter chegado...
- Do mesmo jeito, não precisa, você já fez demais por mim, de verdade.
- Jailton, às suas ordens, haha – será que o meu sorriso amarelo enganou? Ou será que ela percebeu o quanto eu estava constrangido?
- Obrigada, novamente, mesmo que você não queira meus agradecimentos. Tchau.
- Tchau.
Fiquei assim, parado, abobado, abismado, cabisbaixo, assustado, aguniado... Tantas coisas de uma vez...
E aquele “quase beijo” fracassado?
Sei lá, juro que não sei de nada.
Só sei, que dona Madalena me deixou completamente apaixonado.
(Continua...)
domingo, 3 de outubro de 2010
Pois é...
É. Agora é hora de decidir, adiar só vai piorar as coisas.
Tá, muita calma nessa hora, deixa eu explicar tudo primeiro...
...
- Oh, minha Clarice, pertença a mim para sempre, não me deixe nunca. Seja minha eternamente e transforme todas as minhas manhãs em poemas reluzentes de amor.
- Ha, relaxa, eu to aqui. Eu te amo demais, não vou te deixar nunca.
- Tem certeza?
- Aham.
- Então, venha, me dê um beijo.
André e Clarice formavam um casal engraçado, mas combinavam. Ok, tudo bem, talvez nem tanto. Mas eles sempre foram felizes. Em um ano de namoro, mal tiveram brigas. Realmente, se amavam. Principalmente ele a ela.
Sim, ele a amava muito, de fato. Não haviam barreiras que não pudesse ultrapassar se fosse para ver um sorriso se abrir no rosto rosado de Clarice.
As coisas mais improváveis sempre foram marcantes nesse longo tempo em que os dois estiveram juntos.
Um exemplo? Haha, fácil. O metrô. Sempre viveram coisas engraçadas no metrô. Como quando as luzes se apagaram, o metrô parou e de repente e ouviu-se um aviso que assim dizia: ''paramos por causa de usuário na pista''.
-Usuário na pista? Como assim? HAHAHAHA.
-Ai credo, não ria André, não é engraçado.
-...
-Ta bom, é sim! HAHAHAHA.
A verdade, é que eles se divertiam demais, e nem viam o tempo passar. Às vezes até esqueciam de ser românticos um com o outro, como geralmente são os casais. Digo, os casais comuns, normais.
Singular: essa é a palavra que descreve perfeitamente o amor de André e Clarice.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
O amor é como torta de morango.
- Mas por que?!
- Ah, porque sim.
- “Porque sim” não é resposta.
- Lógico que é.
- Desde quando você ta planejando isso?
- Semana passada.
- Mas por que você decidiu ir embora, assim, de repente?
- Sei lá, acho que cansei da minha vida, acho que tenho que explorar mais o mundo, não sei...
- Você é maluca... mas, pera aí, você não é feliz aqui comigo?
- Não é questão de ser feliz ou não ser feliz, é questão de precisar respirar novos ares.
- Acho melhor a gente conversar direito sobre isso.
- Eu não acho.
- Por que não?
- Ah, ta bom, vamos conversar.
- Eu estou chegando à conclusão de que a gente não se conhece tão bem quanto pensávamos...
- Você pensava que nos conhecíamos tão bem assim? Eu sabia que não.
- Então agora é uma boa hora pra nos conhecermos, não acha?
- É, pode ser.
- Tá bom. Qual é o seu CD preferido?
- Álbum branco dos Beatles.
- Ah, esse é bom mesmo. Quais são os seus filmes preferidos?
- Across the Universe e Yellow Submarine.
- Poxa, eu não sabia que você gostava tanto de Beatles...
- Você não sabe quase nada sobre mim.
- E você também não sabe quase nada sobre mim.
- Quem disse?
- Você mesma.
- Eu não disse nada.
- Então seus olhos disseram.
- Ai, para.
- Ta bom. Então... qual é meu nome completo? Duvido que você saiba.
- Ah, essa é fácil né? Marcos Moraes da Costa Martins.
- Marcos da Costa Moraes Martins. Errou, mocinha.
- Ainda não passou essa sua mania de me chamar de “mocinha”?
- Não. E nunca passará.
- Por que não?
- Porque eu adoro te irritar.
- Por que você adora me irritar?
- Porque você fica ainda mais lindinha irritadinha, MOCINHA.
- Não tem graça.
- Pra você não, mas pra mim sim.
- Tá, chega. Agora, me diz, qual foi a primeira coisa que você viu em mim, que te fez ficar tão apaixonado?
- Quem disse que eu sou tão apaixonado?
- Seus olhos.
- Meus olhos?
- Vai, responde.
- Seus olhos.
- Meus olhos?
- Sim.
- E o que mais?
- O olhar sincero que havia por detrás deles.
- Tá, tem que ter alguma coisa além dos olhos...
- Tem sim.
- O que?
- Tudo.
- ...
- É sério.
- Agora é sua vez de perguntar.
- Ok. E você?
- Eu o que?
- O que você viu em mim, que te deixou tão apaixonada?
- Ah... esses seus óculos eu tenho certeza de que não foram... hahaha
- Responde direito.
- Seu jeito engraçado, que sempre me fez muito feliz. Você é completamente doido, sabia?
- Doido de amor por você.
- Tô falando sério.
- Haha, eu também.
- Me dá a mão? Quero senti-la... é tão quentinha...
- Ao contrário das suas. Mas as suas, são macias.
- Os opostos se complementam.
- Nós somos a prova viva disso.
- Também acho.
- Pra onde você vai fugir?
- Pro Japão.
- Tô falando sério.
- Mas por que você quer saber pra onde eu vou?
- Pra poder, em algum momento, te procurar, ir desesperado atrás de você...
- Mas eu não quero que você faça isso.
- Mas eu quero fazer isso.
- Mas eu não quero que você faça e pronto.
- Você não quer mesmo me ver nunca mais né?
- Se um dia eu quiser, vou saber onde você está, daí é só vir aqui, e fazer uma visitinha.
- Como você sabe se a minha vida vai ser sempre essa?
- De qualquer forma, seu coração será eternamente meu, Marcos, querido.
- Como você sabe, Camila, querida?
- Seus olhos me dizem todo dia.
- É, você está certa.
- Eu sei.
- Eu sei que você sabe.
- Sabe, eu acho que o amor é como uma torta de morango.
- Oi?
- Você colhe todos os morangos com cuidado, faz a torta, espera esfriar, come tudo rápido pra não ter que dividir com ninguém, e, finalmente, vai assistir TV sentado no sofá, com a boca toda melecada de geléia de morango. Fim!
- Boa comparação, concordo com você.
- Vou sentir saudades disso.
- Disso o que?
- Das nossas loucuras... não vai ser fácil achar alguém como você no mundo, alguém que me escute com paciência e ainda concorde com o que eu digo.
- É que eu te amo, Camila.
- Eu também te amo, Marcos.
- Então por que você vai embora?
- Eu já te expliquei.
- Mas eu não consegui entender.
- Claro que conseguiu. Quem sabe se, um dia, eu não volto né?
- É, quem sabe...
- E pra você, o que é o amor?
- Tem que ser uma comparação “nada a ver” também?
- A minha comparação foi “nada a ver”?
- ...
- Ta bom, a minha comparação foi “nada a ver”. Ah, você que sabe, faça sua comparação como desejar.
- Ok, então. Pra mim, o amor é como... um baú de brinquedos. Você ama aumentar o número de brinquedos do seu baú, ama ganhar o brinquedo mais moderno e mágico... só que, no final, o seu brinquedo preferido é sempre aquele mais antigo, aquele que aos olhos de outra pessoa não tem nada de especial, mas ele sempre esteve com você, em todos os momentos, é o seu companheiro mais antigo e mais especial.
- Até que faz sentido... o mais especial é o mais importante pra você, e não para os outros. Sim, faz sentido sim.
- É.
- Sabe o que eu estou com vontade de fazer?
- O que? Sair correndo daqui e fugir agora, já?
- Não, seu bobo. Estou com vontade de te beijar. Mas tem que ser um beijo especial.
- Sou expert nesses.
- Por que você é tão convencido, hein Marcos?
- Por que você não tem senso de humor, hein Camila?
- Pronto, perdi a vontade de beijar.
- Ai Deus...
- Posso te contar meu sonho?
- Pode.
- Ta bom. Presta atenção hein?
- Ok.
- Nós acabamos o namoro...
- Ah, mas isso é verdade mesmo, né?
- Não me corta!
- Desculpa.
- Tudo bem. Então, nós acabamos o namoro e você se mudou pra Itália, onde conheceu Janet e vocês se casaram e tiveram um filho, o Stefano, mas daí você descobriu que a Janet estava te traindo com Lucas, que, por sua vez, era casado com Bárbara, uma brasileira que se mudou pra Itália no mesmo ano que você. Sua amizade com Bárbara foi crescendo, até que vocês se casaram e você... Ah, guarda os nomes que é importante tá?... Então, você e Bárbara se casaram e você deixou Stefano aos cuidados de Janet e Lucas. Então, o novo casalsinho feliz, você e Bárbara, foi ao Brasil em lua de mel, mas na hora de voltar pra Itália, ela não quis, preferiu voltar a morar no Brasil com os pais, então o casamento terminou antes mesmo de começar. Aí, pra se recuperar da tristeza de perder três mulheres, eu, Janet e Bárbara, em cinco anos, você foi para o Hawaii, onde conheceu gêmeas dançarinas, que aceitaram a sua proposta de casamento triplo, e vocês três foram viver numa cabana afastada da cidade. Mas então... você se cansou dessa vida, depois de dois anos, e voltou ao Brasil, deixando para trás suas duas mulheres gostosas e seus três filhos. Você voltou, porque percebeu que era totalmente obcecado por mim, e passou a me procurar em todos os lugares, me enxergar em todos os lugares, sair por aí gritando o meu nome, ficou louco e foi internado pelos seus próprios pais.
- Tem certeza de que você sonhou isso mesmo?
- Ok, uma pequena parte foi inventada agora... Mas isso pode ser um aviso de que a sua vida futura será mais ou menos assim, então tome cuidado e guarde bem os nomes, como eu já lhe pedi.
- Tudo bem, vou tomar cuidado e guardar os nomes. Cadê as suas malas? Já as arrumou?
- Sim, estão no meu carro.
- Hum...
- Você ainda tem esperanças de que isso tudo seja uma pegadinha e eu te peça em casamento no final né?
- Na verdade, na parte do casamento eu ainda não tinha pensado não... mas até que não seria má ideia...
- Pois é, eu estou pensando no seu caso... quem sabe eu não desisto de ir embora?
- SÉRIO?
- Não.
- Não?
- Sim.
- Sim ou não?
- Não né, eu vou embora sim, tava só brincando.
- Mas... toda brincadeira tem um fundo de verdade.
- É.
- É?
- Não.
- Para, Camila.
- Hahaha.
- Não tem graça.
- Pra você não, mas pra mim sim.
- ...
- Quer saber, vamos logo pra minha casa, que eu quero me despedir direito de você, meu amor.
(Inspirado no filme “Apenas o Fim”)
sábado, 25 de setembro de 2010
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Mas, quer saber, eu estou bem!
Bem como nunca pensei... porque você ainda não me disse tudo. Há algo aí, escondido, e eu não consigo ver através dos teus olhos.
Mas, quer saber, um dia tudo se resolve, e eu não tenho pressa.
"Dona Madalena: dia-a-dia"
Lá foi Dona Madalena, às oito e meia da manhã: cabelo louro arrumado, exalando perfume pelos corredores do prédio, ombro esquerdo meio torto por culpa do peso da bolsa, batom vermelho, bochechas rosadas, brincos dourados, sandálias de salto.
Foi apressadamente ao encontro do portão – até o trabalho, ainda havia uma longa jornada... ônibus, metrô, caminhada... –, cumprimentou Jailton, o porteiro simpático, com um sorriso, e foi-se embora.
“Dona Madalena é uma mulher trabalhadora...”, pensava Jailton, de dentro da cabinezinha.
Chegado o fim da tarde, Dona Madalena dependurava novamente a bolsa no ombro esquerdo e encerrava o espediente no Salão de Beleza do Chiquinho, no qual trabalha como manicure.
Seu destino: caminhada até o metrô.
“Que azar, peguei o metrô velho hoje”, pensava ela ao se espremer por entre as pessoas. Levou umas duas ou três mochiladas até conseguir alcançar um lugar para se acomodar no fundo do velho vagão abafado.
– Eu podia ta matanu, eu podia ta robanu, eu podia ta me prostituinu... mas eu to aqui, pedinu humildemente uma ajudinha dos senhô. Quem tivé uma moedinha, faça essa caridade pro pobre que necessita. Aceito até de cinco centavu... tem uma moedinha aí, moço?
– Sinto muito, eu não tenho... – respondeu o senhor que estava ao lado da pobre mulher.
– Faça essa caridade, eu tenho três filho pra criá sozinha, moço.
– Sinto muito mesmo, mas eu realmente não tenho uma moeda pra te dar. Se você quiser, eu te pago um lanche.
– Ah não, senhô, eu preciso é de dinheiro...
“Pobre mulher...”, pensou Dona Madalena, do fundo do vagão. “Deus, abençoa e ilumina essa moça e seus filhos. Amém”.
Saindo do metrô, o destino de Dona Madalena era o ponto de ônibus.
Por mais que seja tão comum o fato de presenciar cenas como a do metrô, elas não lhe saem rápido da cabeça. “Eu devia ter dado uma moedinha praquela moça, coitada... não faria falta pra mim, enquanto para ela, seria grande coisa”. Dona Madalena não perdoaria a si mesma tão rápido por não ter ajudado a pobre mulher.
Como se já não bastasse a cena que presenciara no metrô, andando em direção ao ponto de ônibus, Dona Madalena se depara com um morador de rua sofrendo com o frio da noite; seu corpo encolhido sobre o papelão úmido, as mãos fechadas, pés imundos... vestia trapos, tremia compulsivamente.
Ela preferiu não olhar, pois só sofreria ainda mais.
Enquanto esperava pelo ônibus, ficou prestando atenção nas conversas das pessoas ao seu redor.
Uns falavam sobre eleições:
–Cara, em quem você vai votar?
– Meu, acho que vou votar no Tiririca... não entendo nada de política mesmo...
Dona Madalena, ao ouvir isso, teve vontade de dar um grande tabefe na cabeça do moleque, mas segurou-se; “deve ser uma ‘criança’ de dezoito anos que mal sabe da vida”, pensou ela.
Outras falavam sobre futilidades:
–Ai, amiga, gostou do meu esmalte?!,
– Amei, amiga! É ‘Atrevida’?
“Meu Deus, olha só o nome do esmalte... não têm mais o que inventar mesmo...”
O ônibus chegou. Com dificuldade, Dona Madalena passou pelas catracas e sentou-se ao fundo, ao lado das janelas.
Pensou no bando de jovens que a ultrapassara quando subia no ônibus, como hoje em dia não se tem mais educação... pensou no jantar que ainda teria que preparar quando chegasse em casa cansada, dali uns quinze minutos... na sala desarrumada, na roupa suja, no dia seguinte, que seria exatamente como o dia de hoje...
A verdade, é que Dona Madalena se cansa cada dia mais da sua vida solitária. “Só não sou mais sozinha que a Senhora Matilde”. Realmente. Senhora Matilde já aprendeu a conviver com a solidão... mas isso não quer dizer que a pobrezinha não sofra.
Chegou ao ponto desejado exatamente em quinze minutos, como calculara.
Andou dois quarteirões e chegou ao prédio. Jailton levava um sorriso no rosto, como sempre.
Subir os cinco degraus situados na entrada do prédio não foi tarefa fácil, pois o pé calejado incomodava terrivelmente Dona Madalena. Cabelo despenteado entrando nos olhos, ombro ainda mais torto, bolsa ainda mais pesada. Como é cansativo um dia de trabalho!
– Boa noite, Dona Madalena!
– Boa noite, Jailton! Como vai?
– Vou muito bem! E a senhorita?
– Senhorita? Hahaha, foram-se os tempos em que eu era uma senhorita, meu querido... agora sou uma quarentona...
– Imagina, Dona Madalena! Pra mim, sempre será uma elegante senhorita!
– Bondade a sua, Jailton... Estou tão cansada...
– Ah, eu sei como é. Eu também tenho que enfrentar metrô, ônibus, caminhada... todos os dias! Falando nisso, daqui a pouco já encerro o espediente. A diferença é que você é uma senhorita! Admiro muito a sua coragem, Dona Madalena.
– Ah, imagina Jailton! – ficou um tanto sem graça com o elogio do porteiro – Estou acostumada com tudo isso já... e, quer saber, me canso, mas gosto do que faço! Melhor do que ficar presa em uma casa, sem fazer nada.
– Com certeza! Nem me diga... me lembrei agora da Senhora Matilde, coitada! Ontem veio aqui conversar comigo e disse que quer comprar um gatinho pra lhe fazer companhia... imagine só se ela tem condições de cuidar de bicho! Mas não adianta, quando ela encasqueta que quer alguma coisa, sai de baixo!
– É, a Senhora Matilde é assim... vocês têm conversado ultimamente?
– Sim, ela sempre passa aqui de tarde e temos bons papos! Também me traz bolo de fubá... nós fazemos companhia um ao outro.
– Bom, muito bom! Assim nem ela fica sozinha no apartamento, e nem você aqui nessa cabine mofada, não é mesmo?
– Ah, nem me diga! Eu não aguentaria ficar aqui o dia todo, todos os dias, sem conversar com ninguém...
– Eu imagino. Bem, eu tenho que ir, a cozinha e as roupas sujas me esperam!
– Puxa, ainda tem que cozinhar e lavar? Te admiro muito mesmo, Dona Madalena.
– Que isso, Jailton... Beijos, até mais ver.
– Um beijo, até mais...
A cada dia que passa, Jailton enxerga a todos de um modo diferente. Exceto Dona Marindalva – há algum tempo, fora essa a sua favorita –, que é, e sempre será apenas “a gostosa”.
Dona Madalena não... ela é diferente e especial aos olhos dele; os faz brilhar, a testa sua e a vontade de trabalhar é triplicada. É algo que costumo chamar de “sentimento sem nome”. Diria também “atração”, ou pode até mesmo ser o começo do amor no coração deste homem...
O mais curioso, é que Dona Madalena também sente algo paracido...
Quem sabe? Por enquanto, nem mesmo eles.
(Continua...)
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Deixou que o silêncio invadisse sua alma e pôde aprender mais do que se fizesse perguntas intermináveis a si mesma, como costumava.
Saiu do mundo durante algum tempo. Levitou, vagou; viu-se refletir num enorme espelho d’água: sua própria alma.
Dormiu algumas noites ouvindo a respiração profunda e ofegante das pessoas ao seu redor, e aprendeu a amar cada uma delas de um jeitinho especial.
Deixou que os olhos falassem por ela – são eles os mais sinceros...
Por fim, com o coração cheio de lágrimas de emoção que ela acabou não deixando escapar pelos olhos, disse decidida:
– Até ano que vem.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
''Jailton, às suas ordens!''
Passadas duas semanas, já sei o nome de quase todos os moradores.
Dona Madalena sempre sai às oito e meia da manhã – bolsa marrom dependurada no ombro esquerdo, que por conta do peso fica meio caído pro lado; toda emperequetada: cabelos louros, arrumados, deve gastar um vidro de laquê por dia... bochechas rosadas, batom vermelho, brincos dourados, sandálias de salto alto. Dona Madalena deve já ter os seus quarenta e poucos anos.
Márcio – já meio calvo – sai para passear com o cachorro. Às vezes, ele e Dona Madalena se encontram, mas geralmente ela sai um pouco mais cedo.
Sempre de chinelos, calça de moletom, camiseta larga – tenho impressão de que nem troca de roupas pra passear com o cão, vai de pijama mesmo...
Preso a uma coleira azul, vai o vira-latas branco de manchinhas marrom.
Costumam dar uma ou duas voltas no quarteirão, e depois de mais ou menos meia hora, Márcio e o totó já estão de volta.
Todas as quartas e sábados, às onze horas da manhã, mais ou menos, uma Mercedes preta e brilhante deixa aqui na frente Mariana.
Sorte dela, que arrumou um namorado rico. Com certeza, é numa mansão, num desses condomínios chiques, que Mariana passa duas noites por semana – eu ainda sonho em mudar do meu cafofo pra uma mansão, e ter um carrão na garagem, por isso eu jogo na Mega Sena toda semana.
Mariana é bonita, jovem, creio que tenha uns dezenove ou vinte anos...
Dona Marindalva – dessa sim eu já sabia o nome e endereço logo no primeiro dia –, sai de shorts e camiseta justa, todos os dias, e vai praquela academia logo alí na esquina. Oh, Dona Marindalva... bem que podia passar aqui na minha humilde cabinezinha dando um beijo de bom dia, né? Não ia gastar nem um minutinho! É... quem dera... ter uma Dona Marindalva dessa só pra mim...
Casada eu sei que ela não é. Também nunca vi trazer um rapaz aqui pra casa dela. Vai ver o José, que trabalha no turno da madrugada, saiba melhor desses detalhes...
Quase todo dia, escuto umas brigas vindo do terceiro andar da ala dois. Aquele casal ali, acho que não dura nem mais um ano... cada briga horrorosa! É um xinga pra cá, xinga pra lá, “seu cachorro”, “sua vadia”... e por aí vai.
É como eu sempre digo: melhor sozinho do que mal acompanhado. Eu estou sozinho há dez anos, mas pelo menos não tenho que aturar briga todo dia – só do casal do terceiro andar da ala dois.
Um dia, Senhora Matilde, uma velhinha que mora no prédio há uns quarenta e tantos anos, veio até aqui só pra me conhecer. O diálogo foi mais ou menos assim:
– Ah, logo fiquei sabendo que tinha porteiro novo! Vim às pressas conhecer, hehehe. Sabe, eu moro aqui nesse prédio há mais de quarenta anos... sempre fui conhecida por todos! Eu e minhas vizinhas tomávamos chá da tarde uma na casa da outra, todo dia... Mas hoje, já não é mais assim. As pessoas se cruzam pelos corredores, e nem bom dia, boa tarde, boa noite, dão mais umas às outras – eu ainda não sabia exatamente onde a velhinha queria chegar dizendo tudo isso. Acho que ela precisava mesmo de alguém pra conversar, “deve ser meio sozinha...”, pensei. Então ouvi pacientemente todas as palavras cuspidas junto à saliva, da boca enrugada da senhora. – Sabe, meu rapaz, aproveite que é jovem e trabalhe mesmo, ganhe seu humilde dinheirinho, batalhe... pra não acabar como eu, uma velha solitária, que vive da aposentadoria, trancada nesse predinho... A propósito, qual é o seu nome mesmo?
– Jailton, às suas ordens! – e abri um sorriso no rosto, procurando confortar a velhinha.
– Ãh? Jamilton?
– Não não, Ja-il-ton – separei as sílabas, pra facilitar o entendimento.
– Ahhhhhhh, Jailton! Desculpe, é que eu já estou ficando surda sabe... Hahaha... – a senhora ficou sem graça, soltou uma risadinha, mas logo em seguida, suspirou profundamente. Com certeza, não leva uma vida muito feliz...
– A senhora mora em qual apartamento?
– No cinqüenta e um da ala três.
– Então pode deixar a entrega dos jornais comigo!
– Muito obrigada, meu rapaz, mas não precisa não, eu gosto de descer um pouco todas as tardes, então já aproveito e venho pegar o jornal.
Concordei com a cabeça e sorri.
– Ah! Já ia me esquecendo, deixei o bolo no forno! Deixe-me voltar para meu apartamento antes que o bolo queime, ou coisa pior! Hehehe!
– À vontade!
– Gosta de bolo de fubá?
– Claro!
– Então pode deixar, que eu trago um pedaço para você, meu filho! Hehehe.
– Oh! Muito obrigado!
Meio maluquinha a Senhora Matilde... mas é bem simpática. Gosto das risadas longas dela, são cativantes.
O tempo passou tão rápido! Quando notei, Dona Madalena e Dona Marindalva já estavam de volta.
Dona Madalena aparentava cansaço, deve ser uma mulher trabalhadora. Descabelada, o ombro caído pro lado por conta do peso da bolsa, a maquiagem já meio borrada, mancando – com certeza, andara muito.
Dona Marindalva estava perfeitamente graciosa, como sempre. Apenas meio suada.
Sabe... Gostei deste lugar!
E é aqui, com Madalena, Márcio, Mariana, Marindalva, Matilde, e muitos outros, que eu passarei os próximos sei lá quantos anos da minha vida...
segunda-feira, 19 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
É você que beija os meus lábios incansavelmente e não me deixa ir embora no final do dia.
E é você a causa da minha insônia – passo noites inteiras pensando na nossa próxima tarde juntos, em que conversaremos aleatoriamente sobre como as folhas da árvore do outro lado da rua são verdinhas, como o canto dos pássaros é gostoso de ouvir, como MPB é bom, como eu te amo, como você me ama, como é agradável o cheiro de cabelo recém-lavado, como gostamos das nossas tardes aleatórias, como é bom saber que nos veremos novamente amanhã, e depois, e depois, e depois...
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Articulo bem as palavras a fim de suprir a necessidade feminina por romances, por palavras que de tão simples se tornam belas, por versos que desejam ser lidos e principalmente precisam ser; em tempos de trogloditas disfarçados de homens e monstros insensíveis camuflados em seus carrões e whiskys nas noitadas do assentimentalismo.
Nós homens vivemos questionando o fato das mulheres gostarem tanto de novela, de chorarem sempre no último capítulo, de exigirem silêncio mesmo na hora da abertura e outros tantos “detalhes” que julgamos fragilidade. É que pelo menos na tv, todos os dias, às 8 da noite, um gentil homem é cavalheiro, fino, educado e sabe fazer coisas simples como abrir a porta do carro ou ceder o paletó em noite de brisa fria. E como se não bastasse, sabe fazer também coisas mágicas como se atirar na frente de um carro para salvar o cachorrinho branco e frágil da mulher amada, consegue dizer poesias inteiras no silêncio de um olhar e consegue com um simples toque, tocar milhares simultaneamente, rompendo os limites das telas e invadindo milhões de lares. Trata-se de saber como pegar na mão e como, em uma dança, saber conduzir a dama por todo o salão de gala, o salão nobre do amor em potencial. Talvez por isso eu também goste tanto dos últimos capítulos.
Uma vez li uma crônica sobre pessoas responsáveis sentimentalmente: que têm consciência e responsabilidade para com o sentimento alheio, buscam na pureza da verdade toda ação em um relacionamento, tornando ínfimo o espaço para desilusões, mágoas, traições e vários outros sofrimentos que não existiriam se todos tivessem certo sentimentalismo sustentável, afinal "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas''.
E justamente por cativar e ser cativado é que as vidas não mais se independem, é a significância do seu sorriso que me da a vontade de te querer, é o saber que estás a minha espera que me faz cantarolar no chuveiro, a sua boca doce é que me faz beijar apaixonado, ao ponto de fechar os olhos e me enxergar por dentro em vários tons de felicidade e ao abrir e ver que estás me espiando com a carinha mais linda de todo o mundo-univérsitico-galaxial-marinho e azul é que me da a certeza de te dizer, com responsabilidade sentimental cativante e ao mesmo tempo totalmente cativado por você:
-Sim, já escrevi a outras mulheres antes, mas nunca amei a nenhuma delas como eu te amo, e silêncio que vai começar a novela.
(Para Alice que, sem dúvidas, sonha com alguem que lhe diga palavras tão bonitas e verdadeiras quanto essas)
Por Aurora Guimarães.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Acontece...
Eu notei que amar é sofrer. No meu caso. Porque, acontece que eu amo demais... Agora, na verdade, não mais.
Acontece que eu troquei você – meu vício –, pela estranha mania de pronunciar em voz alta, pequenas palavras de trás para frente e ver como ficam esquisitas.
Você é esquisito, como as palavras de trás para frente. Mas me confortava.
Acontece que, toda vez que eu te via, eu chorava sorrindo. Chorava porque sabia que sofreria a partir dali. Sorria porque você era o amor da minha vida.
sábado, 12 de junho de 2010
Apenas bons devaneios.
"Hoje não vou tentar articular nada. A arte não tem questão, vou deixar minha mão escrever mesmo que ela pese", disse Aurora, "esses meus pontos de tensão estão doendo. Escrevo, apago, paro, vírgula, ponto".
Uma noite movida a chocolate. Chocolate com recheio de amora. Delícia, não?
"Não. Delícia é saber que quando sair ao relento, poderá contar com aquele agasalho que tem o cheiro que você tanto ama. O cheiro do homem que tanto ama. Não um homem qualquer, mas o seu homem; aquele que vai te abraçar e dividir contigo o chocolate com recheio de amora", disse eu.
"Por que choras?", me perguntam.
"Porque quero, apenas. Porque sinto vontade. Assim como posso sentir vontade de sorrir. Afinal, quem precisa de um motivo concreto para colocar-se no estado de felicidade ou tristeza?", respondo.
-Estou indo dormir, um beijo.
-Durma, meu bem. Mas, reze para que acorde sonhando amanhã de manhã. Para que possa acreditar que tudo é uma grande verdade: os raios do sol, os pássaros a cantar, as nuvens, o azul do céu, a brisa macia. Pois, se tu acordas, passa a ser uma alma perdida do teu corpo, da tua carapaça. Se acordares, querida, do teu sonho profundo, do teu devaneio, que te mantém neste falso mundo, serás apenas mais uma alma; flutuarás no universo sem fim, sem sentimento, sem rumo, sem propósito.
(Apenas devaneios de uma madrugada fria).
quinta-feira, 10 de junho de 2010
- eu não disse que não iria.
- mas também não falou que ia.
- sim, não falei, mas isso não implica em não ir.
- então porque não falou?
- porque eu não quis.
- uau, tu nunca queres nada.
- eu quero.
- o que você quer?
- quero poder fazer com que tu entendas que eu quero ir.
- porque veste essa armadura toda?
- que armadura?
- essa, junto dessa pose de "você quem sabe".
- mas realmente és tu quem sabe.
- olha, eu não sei de nada, porque eu nunca fico sabendo de verdade qual é a tua vontade.
- então deixa eu te mostrar?
- mostrar o que?
- a minha vontade que tu não consegues ver.
- eu não quero que tu me mostres nada.
- ah é? Mas mesmo assim eu quero te mostrar.
- interessante como o teu querer aparece do nada.
- o meu querer ta sempre aqui. É uma pena que tu não saibas disso.
- ...
- Ta, não adianta me olhar com essa cara de cachorro molhado. Tu que começaste.
- É, fui eu quem começou.
- ah, ironia essa hora do dia não é nada agradável.
- po, tem hora certa pra ironia também? Não, porque, pra ti as horas são todas medidas e remedidas.
- eu meço as horas do meu dia, pra que sobrem horas a mais pra eu te ter nos meus braços por mais tempo.
- se você acha que vai me amolecer com essas frases românticas, vai tirando o teu cavalo da chuva.
- eu não tenho cavalo.
- tira o teu cachorro da chuva.
- amor, nós não temos cachorro, lembra? Optamos por ter um apartamento só pra nós.
- tu estás me irritando.
- tu ficas ainda mais linda quando irritada.
- vou te mostrar quem é linda.
- mostra, vai.
- ai, cala a boca.
- calo sim, mas só com um beijo teu.
- vem cá, tu não vai parar?
- não paro se não quiser.
- eu acho incrível como tu misturas as coisas.
- mas eu não estou misturando nada.
- porque fica querendo me ganhar com esse teu jeito irresistível?
- ah, porque você me ama.
- e você não?
- não.
- mas...
- não, eu não me amo, eu te amo.
- sem graça.
- É, às vezes eu tenho vontade de te jogar pela janela, de tão sem graça que tu és.
- e porque não joga?
- porque além de entrar em cana, eu ficaria sem o amor da minha vida. E tu, porque não deixas de querer saber dos por quês?
- porque... Porque eu não sei.
- eu sei.
- tu sabes?
- sei.
- do que tu sabes?
- sei que tu estas querendo um beijo meu.
- sabes nada.
- vais negar?
- claro que vou.
- até assim, na orelha?
- na orelha já é um começo.
- ah é? E aqui, no pescoço?
- para com isso.
- aaaaahhhhhhh
- bbbbbbbbb
- tu és tão chata, mas eu te amo, sabia?
- eu sei.
- hahaha
- ta rindo do que?
- da tua cara
- tenho cara de palhaça?
- olha...
- não responde!
- certo, certo.
- vem, me da um beijo logo.
- ta querendo um beijo agora?
- to sim.
- um é muito pouco.
- eu sei, mas inicia ai, que eu sigo com todo o resto.
- a tua boca tem cheiro de mel.
- a sua tem cheiro de creme dental.
- hahaha. Eu escovei os dentes antes de entrar no quarto.
- a tua voz é doce.
- tu já me disseste isso.
- deixa...
- sabe o que eu mais gosto na gente?
- o quê?
- o modo como as coisas se ajeitam rapidinho, como as coisas não têm o tamanho que deveriam ter... Digo, nas “brigas”. Até parece que sempre é a primeira semana de namoro.
- É porque o amor é maior do que qualquer outra coisa, principalmente se for relacionado a essas "brigas" baratas
- o nosso amor é maior do que qualquer coisa.
- é sim. Mas vem logo, não me enrola, me beija logo.
- só se eu puder ver os teus olhos se fechando.
- é só ficar com os olhos abertos.
- não vais ficar brava?
- não fico nunca.
- nunca é muito, hein.
- é muito sim.
- ...
- se um dia tu resolveres que não quer mais morar comigo nesse apartamento, tu leva contigo esses nossos momentos?
- se um dia eu resolver que não quero mais morar contigo nesse apartamento, vai ser porque eu quero comprar um melhor pra gente morar.
- eu te amo.
- eu também. Mas, afinal, é para eu ir ou não?
Por Aurora Guimarães.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Todo carnaval tem seu fim.
Foi no desenrolar das conversas, no começo da amizade, nos sorrisos, nas risadas.
E aquele olhar te condenou. Era perceptível, ao longe, que se encontrava em estado de hipnose.
''Que sentimento é esse, que vem aqui de dentro?!''
E, debaixo do cobertor de estrelas, encontramos o amor escondido. O amor que fazia borbulhar nossos pequenos grandes corações.
Os lábios se tocaram delicadamente, sem pressa de se separarem. Uma, duas, três, quatro, cinco, mil vezes!
As mãos suadas sempre entrelaçadas. Olhos nos olhos e as palavras mais lindas.
''Como é bom esse tal amor!''
Mas, a tão temida ''hora do adeus'' chegou. Abruptamente arrombou as portas de nossas moradas. Nos assustou, mas continuar firmes e fortes foi necessário.
Sua tristeza era tanta que preocupava a qualquer um, principalmente a mim.
''E agora? O que será de nós?!''
Mesmo com as promessas que fizemos um ao outro, de que o ocorrido não nos deixaria tristes, foi impossível evitar que as lágrimas escorressem por nossas faces juvenis.
As bocas, não mais virgens, necessitavam uma da outra. E os braços sentiam a falta de um corpo para acolher.
''Onde estás, meu amor?!''
Sofrer: inevitável.
Raramente podíamos nos comunicar.
As vidas, tão diferentes, nos impediram de manter um contato constante. Mas, de longe, podíamos imaginar o que o outro estava fazendo; o que estava sentindo; o que estava pensando.
Mesmo com a distância, nenhum de nós sentia-se só - tínhamos um ao outro.
''Quero estar junto a ti em julho!''
Tanto desejamos, que se concretizou: sim, estaríamos juntos em julho!
''Espere-me, meu amor! Estarei aí com você!''
Mas, algo estranho aconteceu em seu coraçãozinho. Lindo coraçãozinho que a mim pertencera!
Palavras inversas a tudo o que já havia dito, jogadas em mim, sem nenhum receio.
Assim disse ele: ''É melhor esquecer de tudo e voltar à rotina normal, fazer o que fazíamos desde sempre, só isso''.
''Não é com o garoto doce, por quem me apaixonei, que falo agora. Garoto meigo que prometeu esperar-me o quanto fosse necessário!''
É, realmente as coisas mudam com o tempo.
O que não consigo entender é: se trouxemos toda a nossa história até aqui, por que não esperar mais algum tempo, até que chegue o mês de julho?
Porém, a única pessoa capaz de responder minha pergunta é ele. Então, provavelmente ficarei sem saber.
''E é o fim...''
Encolhida no tapete da sala, chorei. Chorei para o mundo ouvir. Chorei sem medo.
Com a cabeça latejando, pensei. Pensei inúmeras coisas, das quais nem consigo me recordar.
Com o corpo adormecido, senti. Senti falta. Senti medo. Saudade. Raiva. Ódio. Dúvida... Amor!
''Porque ainda te amo? Por que?!''
''Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda bossa é nova e você não liga se é usada
Todo carnaval tem seu fim
Todo carnaval tem seu fim...
E é o fim
E é o fim
Deixe eu brincar de ser feliz
Deixe eu pintar o meu nariz!''
Agora, me faz bem ouvir a música no último volume e sentir seu ritmo pulsando em minhas veias.
O abraço de um outro alguém; os amigos ao meu redor. As gargalhadas; a vontade plena de esquecer dos problemas... Ser simplesmente feliz! Isso me faz bem!
Talvez, amanhã eu prefira escutar atentamente o som do silêncio.
Ficar sozinha; refletir sobre a vida. E, chorar um pouco...
Cada dia desejo algo diferente. Cada dia sou algo diferente.
Não sei ao certo o que quero. Mas não me importa saber.
O que desejo mesmo é descobrir o mundo! Exatamente por isso estou aqui, agora.
(Desculpem-me pelo texto, talvez um pouco confuso, mal escrito e sem um final definido. Ele se compara à minha vida, que encontra-se exatamente assim: confusa, sem definição...
E dedico esse texto à você, meu querido! Mesmo que, talvez, nunca o leia.
Saiba que fui muito feliz enquanto estive ao teu lado).
terça-feira, 11 de maio de 2010
Let it be
Verdade seja dita: entender, eu entendo. Mas não faz diferença, os dias passam rápido, existe a tal gravidade, papéis entram e saem de máquinas, ninguém sabe ao certo quem descobriu a cor. (Têm coisas que não precisam ser explicadas. Pelo menos para mim).
Tenho um coração maior do que eu, nunca sei a minha altura, tenho o tamanho de um sonho. E o sonho escreve a minha vida que às vezes eu risco, rabisco, embolo e jogo debaixo da cama (pra descansar a alma e dormir sossegada).
Coragem eu tenho um monte. Mas medo eu tenho poucos. Tenho medo de Jornal Nacional, de lagartixa branca, de maionese vencida, tenho medo das pessoas, tenho medo de mim. Minha bagunça mora aqui dentro, pensamentos dormem e acordam, nunca sei a hora certa. Mas uma coisa eu digo: eu não páro. Perco o rumo, ralo o joelho, bato de frente com a cara na porta: sei aonde quero chegar, mesmo sem saber como. E vou. Sempre me pergunto quanto falta, se está perto, com que letra começa, se vai ter fim, se vai dar certo. Sempre questiono se você está feliz, se eu estou bonita, se eu posso levar pra casa, se eu posso te levar pra mim. Não gosto de meias-palavras, de gente morna, nem de amar em silêncio. Aprendi que palavra é igual oração: tem que ser inteira senão perde a força. E força não há de faltar porque – aqui dentro – eu carrego o meu mundo. Sou menina levada, sou criança crescida. E mesmo 'pequena', não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu...
Escrevo escondido, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. Choro. E eu amo. Ah, e como amo! Amo igual criança. Amo igual adulto. Amo com os olhos vidrados, amo com todas as letras. A-M-O. Sem restrições. Sem medo. Sem frases cortadas. Sem censura. Quer me entender? Não precisa. Quer me fazer feliz? Me dê um chocolate, uma carta, um sorriso sincero, um brinde que você ganhou e não gostou, uma mentira bonita pra me fazer sonhar. Não importa. Todo dia é dia de ser criança e criança não liga pra preço, pra laço de fita e cartão com relevo. Criança gosta mesmo é de beijo, abraço e surpresa!
(E eu – como boa criança que sou – quero mais é rasgar o pacote!)
hahaha, pensamentos mal regulados
por Aurora Guimarães
quarta-feira, 5 de maio de 2010
terça-feira, 4 de maio de 2010
Envelhecida.
“E ele, tão homem!”, ela pensava. Pois que era mesmo. Aquele corpo ofegante perto do seu era velho conhecido. Os dois amantes já não encontravam mais surpresas ao se amarem, uma vez que tudo o que havia de novo já fora desvendado. Ela, que conhecia cada detalhe do corpo daquele homem, podia citar de olhos fechados todas as marcas adquiridas ao longo da vida, cada mínima parte era sua, pertencia-lhe. E mesmo assim, desejava-o tanto, na sua ânsia de mulher que precisava possuir. Queria tanto aquele corpo, meu Deus! E de tanto querer, envergonhou-se.
O rubor ligeiro passou-lhe pela face suada, o coração palpitante acelerou-se e os poros permitiam que o suor saísse mais depressa. “Ai, que vergonha!”, pensava. Vergonha de desejar tanto algo que já era seu por tantos anos, vergonha pelo corpo envelhecido que ainda fazia pulsar aquele sexo alheio, embora com um pouco mais de esforço... Vergonha, no final, de ter mostrado a ele toda a sua imperfeição, toda a sua parte humana, mulher.
E então, num gesto impulsivo, daqueles que a gente só percebe depois que já fez, colocou o rosto do homem entre suas mãos, apertando como se aperta um passarinho que não se quer deixar escapar. E beijou-lhe a boca úmida, com um fulgor que já não lhe pertencia mais, e sim à mulher que despertara dentro dela. E deixou escapar as lágrimas teimosas que insistiam em sair. As lágrimas de dor, pelo tempo que se fora tão rápido e não voltaria mais, e de alegria, por ter sido tão completamente apaixonada pelo homem que beijava. E também, no fundo sabia, lágrimas de vergonha por ter envelhecido, como se envelhecer fosse um erro imperdoável e ela fosse a culpada por ter deixado acontecer.
O homem, surpreso, intenso, apenas afagou-lhe os cabelos e, olhando os olhos cúmplices da mulher envelhecida, disse:
- Você é a criatura mais perfeita que já me apareceu na vida.E ela, cheia das imperfeições, cheia do pecado de deseja-lo tanto e de deixar o tempo passar, tornara-se, aos olhos dele, perfeita.
por Aurora Guimarães
sábado, 1 de maio de 2010
Conversas de elevador.
-Sim. Vai chover amanhã - eu olhava para o chão enquanto falava. Nunca tinha visto a moça no prédio, não sei quem era. Só sei que seu perfume era delicioso e sua voz me encantara.
Meu coração palpitava forte. Oh, aqueles cabelos brilhantes! Oh, aqueles olhos negros!
Seu olhar profundo me fazia estremecer desde os pés até a cabeça. Senti que uma gota de suor escorria por meu pescoço; achei melhor permanecer olhando para o chão mesmo.
O elevador chegou ao andar desejado por ela; abri a porta, em sinal de cavalheirismo. Ela saiu e me agradeceu com um sorriso. Oh, que sorriso!
Subi mais um andar. Peguei a chave que estava no bolso esquerdo da calça e abri a porta do meu apartamento.
-Ela mora um andar abaixo de mim. Como nunca a notei antes? Será que é nova no prédio? Só pode ser! – pensei alto.
Quando entrei - ah, como é bom chegar em casa! - tirei os sapatos e deixei-os na sala. No meio da sala.
Corri para o meu quarto e me joguei na cama. Liguei a TV.
Não estava passando nada de bom... Resolvi então pegar meu livro na sala. Havia muito tempo que eu não lia.
Tropecei nos meus sapatos, por pouco não caí de cara no chão. Achei melhor levá-los para o quarto.
No meu trajeto, passando pelo corredor, ouvi que uma campainha tocou no andar de baixo. Ajoelhei-me no chão e encostei meu ouvido nos tacos de madeira, tentando escutar o que se passava embaixo de mim.
Uma voz masculina, seguida de risadas femininas.
Esta risada não me soava desconhecida... Claro! A moça do elevador!
Mas não pode ser! Um homem chegando a essa hora em sua casa! Entrei em desespero.
Levantei-me do chão e me pus a pensar que esse desespero era sem motivos. Por que isso, se não sabemos nem os nomes um do outro?!
Não sei. Agora, o que sabia era que um homem chegara em sua casa e isso não é bom.
O melhor para mim era dormir. A cama bagunçada não é um problema para quem mora sozinho há alguns anos, já é de costume.
Em meu sonho, ela usava um longo vestido branco, que contrastava com o cabelo e os olhos negros. Aproximava-se de mim com aquele sorriso que eu tanto adoro. O sorriso é algo em que eu sempre reparei nas mulheres; e o dela, realmente me encantara!
Estava pairando no céu, quando fui acordado pela campainha. Quem será?
Meu cabelo mais parecia um ninho de rato, mas isso pouco me importava. Quem ousa interromper meu sonho???
Atordoado, fui andando, ou melhor: cambaleando pelo corredor.
Abri a porta abruptamente sem perguntar quem era.
-Pois não?!
-Sua pizza, senhor.
-Pizza??? Mas eu não pedi pizza nenhuma!
-Este não é o apartamento 72?
-Não, meu caro. É o 71.
-Ah! Desculpe-me pelo engano, senhor. Tenha uma boa noite!
Bati a porta com força, de propósito; creio que o entregador de pizza entendeu que a minha irritação era extrema. Mas claro! Meu sonho foi interrompido!
-Bom, já que eu acordei, vou ver se agora está passando algo de bom na TV – peguei-me pensando alto – ai, agora estou até falando sozinho, eu sou louco.
Mal sabia eu que essa não era a primeira vez em que “conversava com as paredes”.
Acomodei-me em minha cama novamente. Nada de bom passando. Mas, decidi ver um filme de ação, mesmo sendo muito ruim; me lembrava os velhos tempos, quando eu e meu irmão passávamos horas assistindo filmes ruins, zombando das cenas mal feitas... Tão divertido era para nós!
-E o que se passa agora no apartamento 61? Melhor nem pensar! - era o que não parava de martelar em minha cabeça, que já começava a doer. E eu, falava sozinho de novo.
O filme estava realmente chato. Deitei-me, mas a TV continuou ligada. Dentro de alguns instantes, meus olhos se fechavam e eu caía em um sono profundo.
Dessa vez, em meu sonho, eu chegava em minha casa térrea amarela, com meu carro prateado. E quem estava lá, abrindo a porta pra mim?! Oh, aquele sorriso outra vez! Ela não cansava de escancarar a boca, cheia de dentes brancos. E eu, não cansava de admirá-la! Da cozinha, vinha o cheiro de macarrão ao molho branco. Meu preferido!
Quando acordei, os cobertores estavam todos caídos no chão. Meu corpo se encolhia; eu sentia cada vez mais a falta de alguém preenchendo aquele espaço vazio, ao meu lado, na minha imensa cama de casal.
O sonho já não estava mais tão nítido em minha memória.
-Que horas são? – o relógio estava um tanto distante, de maneira que meu braço não o alcançou.
Fui obrigado a me levantar para ver que horas eram.
-MEU DEUS! Vou me atrasar para o trabalho!
Eu só mantenho esse emprego no subúrbio de São Paulo, pois o dono do bar é amigo do meu pai. Passo o dia atendendo os clientes bêbados.
Mas, eu ganho meu salário, posso pagar minhas despesas.
-Arrume-se! Você não pode, de jeito nenhum, ser demitido desse trabalho também! – falar comigo mesmo, faz com que eu me apresse mais. Acredito eu.
Chamei o elevador. Quando estava prestes a chegar, alguém do andar de baixo chamou-o. Ouvi vozes. Aquelas vozes.
- Tchau, meu amor!
- Tchau, minha linda. Esse seu sorriso me mata de amores, sabia?!
Em seguida, a risadinha tímida e o beijo estalado.
- Você volta na semana que vem?
- Claro que volto, coração.
A raiva era grande. Muito grande.
-Só eu posso reparar no sorriso dela e dizer que me mata! Só eu posso... Ah, eu não posso nada. Eu não sou ninguém. Sou só um idiota que conheceu a mulher mais linda do mundo no elevador, agora acredita que está apaixonado por ela e fica escutando as conversas que ela tem com o suposto namorado. Ai, como eu sou idiota! – sussurrei para mim mesmo. Esse costume de falar sozinho e pensar alto estava cada vez mais constante.
Preparei-me para encontrar seu namorado no elevador. Estava louco para ver a cara do sujeito.
O elevador chegou no meu andar. Entrei rapidamente, olhando para o chão. Reparei nos belos sapatos que ele usava.
Desviei, lentamente, o olhar. O chão deixou de ser o alvo dos meus olhos; o que realmente me importava era ver o rosto dele.
Tenho que admitir, o sujeito é mais bonito que eu. Mais... Interessante. Usa trajes chiques e o cabelo penteado.
Fomos em total silêncio até a garagem.
Fui em direção à minha moto. E ele, entrou em seu carro; um belo carro!
Voltando do trabalho, encontrei-a novamente no elevador.
-Oi – não sei como, mas criei coragem para abrir a boca.
-Oi! Tudo bem?
-Tudo... E você? – menti um tanto, dizendo que estava tudo bem. Depois da manhã de hoje, como estaria tudo bem?! Como?!
-Tudo ótimo! – e o sorriso se abriu. Oh!
Conversas de elevador, geralmente, param por aí.
Como ontem, abri a porta, deixando-a passar. Seu sorriso fez com que meu dia se tornasse um pouco mais belo e colorido.
Peguei a chave no bolso esquerdo da calça, como de costume.
E tudo foi como ontem: estava exausto. Dormi e sonhei com ela. Fui acordado, só que, dessa vez, pelo telefonema do meu pai. Dormi novamente, assistindo a um péssimo filme de ação.
Reservei este sábado para descansar. Nada de sair com os amigos para beber demais; não quero ficar de ressaca amanhã.
Como é bom o sábado, não é mesmo?!
Pretendia dormir até tarde. Mas, a campainha tocou às 8:30.
-Pois não?!
-Você tem um pouco de farinha e alguns ovos para me emprestar? É que amanhã é aniversário do meu namorado e eu queria fazer um bolo para ele!
Aquela voz não me era estranha... Decidi fazer um esforço e abrir os olhos para ver quem estava em minha porta.
Sim! Era ela!
E eu assim, com esse ninho de rato na cabeça! Com esse pijama constrangedor!
Manter a calma foi a melhor coisa que eu pude fazer. Tentei enxergar o lado bom: ela estava ali, diante de mim, falando coisas mais interessantes comparadas às conversas de elevador.
- Eu acho que tenho sim... Só um instante!
- Tudo bem. Obrigada.
-Ah, você quer entrar? Se sentar? Tomar uma água, talvez? – mesmo com aquele frio na barriga, tentei parecer despreocupado. Creio que consegui.
-Não, obrigada. Vou esperara aqui fora mesmo.
Como pode haver mulher tão bela no mundo? Era a pergunta que fazia a mim mesmo todos os dias. E eu, aqui, diante dela, nesse estado!
Voltei com a farinha e os ovos em um potinho de tampa azul. Estendi a mão para que ela pegasse o recipiente; porém, parecia prestar mais atenção no meu pijama do que em qualquer outra coisa. AI MEU DEUS! Que constrangedor!
-Ah! Obrigada! – e saiu correndo, meio avoada. Desceu as escadas rapidamente.
Eu fiquei ali, plantado na porta, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer.
Não consegui mais pegar no sono. Mas tudo bem, aproveitei para colocar a leitura em dia.
E foram cinco meses assim, com essa mesma rotina. Sim, eu sei, é estranho. Mas aquele sorriso se tornou realmente especial para mim. Aquele cabelo, aqueles olhos, aquela voz.
Pela primeira vez, não acordei atrasado. O namorado dela não chegou em sua casa quinta-feira a noite. Não encontrei-a no elevador ao chegar do trabalho. E, quando fui abrir a porta de casa, procurei a chave no bolso esquerdo, mas ela não estava lá. Intrigado, encontrei-a no bolso direito da calça.
Esse dia estava estranhamente diferente. E isso não é bom... Eu creio.
Quando desci para pegar o jornal, encontrei-a no elevador.
Pude perceber que ela tentava esconder seu sorriso. Curioso. Nunca a vi fazendo isso.
Olhei fixamente para seus olhos; não foi mais possível para ela esconder aquilo que acabou se tornando uma risada. Uma longa e gostosa risada.
Eu sorri, mas fiquei me perguntando se ela estaria rindo de mim... Será?
-Eu e meu namorado vamos começar a mudança hoje! E eu estou muito feliz!
-É, eu percebi que está feliz. Que bom! Mas... Mudança? Por que?
-Porque vamos nos casar!
Fiquei em estado de choque. Não consegui me mover, muito menos pronunciar uma palavra.
-Que foi? Está se sentindo mal? - perguntou, parecendo preocupada.
-Não! Estou feliz por vocês... Parabéns - não sei se consegui fingir muito bem a felicidade, mas, pelo menos, consegui dizer algo.
E, tomada por uma profunda alegria, atirou-se em meus braços.
Eu não entendi o que estava acontecendo. Apenas, sei que foi o melhor abraço que já recebi no mundo!
Ela se aproximou do meu ouvido, e sussurrou:
-Obrigada, querido vizinho, por tudo! Pelas conversas de elevador e pela farinha e ovos que eu nunca mais lhe devolvi!
Eu estava em completo êxtase! E ela soltou uma gargalhada que me deixou derretido. Mais uma vez.
O elevador chegou no térreo. Ela se soltou dos meus braços e eu fui buscar o jornal, deixando-a sozinha no elevador.
Que idiota! Por que eu não respondi nada a ela?! Provavelmente, essa foi a última vez em que nos vimos... A última conversa de elevador.
Voltei para meu apartamento. Não aguentei, tive de colocar para fora o que sentia. Havia um bom tempo que não chorava; mas foi inevitável.
Sim, o dia de hoje foi estranhamente diferente. E vai ficar marcado em minha memória.
Aquele sorriso que me alegrava, depois do dia cansativo de trabalho no barzinho suburbano, se foi. Para sempre.
Minha blusa ainda estava perfumada. Abraço inesquecível fora este.
Mas, eu sei que, um dia, vou esquece-la. Pois, tudo ficou por isso mesmo - apenas boas conversas de elevador.
Tempo.
domingo, 25 de abril de 2010
(Re)encontro.
- Você tem tomado sol, Clara?
- Nós estamos em pleno inverno, Marcelo.
- Eu sei...
Continuou me olhando com aqueles olhos verdes secos e grandes que mais pareciam velhas bolitas de gude das quais o brilho havia se extinguido pelo tempo - quando a vi pela primeira vez, não conseguia abandonar o pensamento de que seria ótimo pingar algumas gotas de colírio naqueles olhos. Cheguei a me prometer que faria isso -. Era sempre assim: chegava sem avisar, examinava a casa bagunçada com aquele olhar desaprovador que eu odiava tanto, perguntava sobre o cachorro e por último, finalmente, passava uns bons minutos me encarando em silêncio.
O tempo passava e ela ficava mais bonita. Envelhecer é um privilégio de que poucas mulheres tiram proveito – a maioria está preocupada em demasia tentando disfarçar o tempo vivido, o que é uma tolice em se tratando do tempo, sempre tão impiedoso em relação às marcas que deixa. Mas Clara era diferente... Ela possuía em seu semblante esse ar de mulher vivida, de sabedoria que se adquire com o tempo, o que a deixava ainda mais irresistível. E lá estávamos nós, parados, um de frente para o outro, apenas a mesinha com algumas revistas e o cinzeiro entre nós. A mesinha e o acanhamento que nos envolvia.
Eu sempre tive medo de quebrar o silêncio. Ela continuava me olhando daquele jeito intenso e desconcertante dela, eu cada vez mais perdido nos olhos secos que sugavam toda a serenidade que havia em mim, deixando-me na companhia indesejada de um desespero que me tomava e fazia sacudir cada parte do meu corpo, aquela sensação de vazio que me preenchia todo, a vontade de gritar tão alto até que a garganta fosse capaz de rasgar e que eu pudesse sentir o gosto do sangue fresco. E doía olhá-la, aquela mulher que outrora não estranharia se eu esticasse o braço e tocasse suas mãos fechadas em punho sobre os joelhos. E ela sabia que doía em mim porque, de alguma forma, o meu sofrimento era tão exorbitante que se fazia sentir quase que como matéria pela sala.
Finalmente perguntou pelo que eu já esperava porque havia sido assim nos últimos três meses e agora se repetia como numa peça que era ensaiada do começo ao fim:
- Como você está?
Eu estou morrendo, Clara, eu estou morrendo e sinto a minha alma dilacerada como carne que se corta em pedaços pequenos o suficiente para que se possa mastigar e destroçar mais e mais. Já não posso suportar acordar e não ver os seus cabelos cor de fogo espalhados no travesseiro do lado do meu, já não consigo lidar com essa sua ausência que se faz presente o tempo todo, essas suas sardas que eu já perdi as contas faz tempo, tanto tempo...
- Eu estou... bem. E você, han? E o Guilherme?
- Ah, estamos bem... O Guilherme está trabalhando pra uma grande empresa no centro da cidade agora, nós estamos até pensando em nos mudar pra um lugar maior. Você sabe como eu nunca gostei muito de lugares apertados, sem jardins bonitos e cachorros brincando neles. Escute, Marcelo, eu tenho que ir agora, tenho um compromisso mais tarde e ainda preciso passar em casa e me arrumar.Sempre um compromisso. A mesma desculpa para fugir dos mesmos constrangimentos. Fiquei me perguntando se as visitas dela seriam uma forma de não me fazer esquecer da sua existência – como se isso fosse possível -, se ela gostava de ver o sofrimento que eu fazia questão de não esconder nos meus olhos ou se ela simplesmente gostava de situações embaraçosas. Pensei em jogar-me aos seus pés e implorar para que não me deixasse mais, para que não beijasse mais outros lábios que não os meus, tão sedentos dos seus beijos, meus braços tão saudosos dos seus abraços... Pensei também em dar-lhe um tapa no rosto e ordenar que me deixasse em paz, que não voltasse a me atormentar com a sua visão novamente.
Entretanto, deixei-a ir, como sempre fiz, e ela já havia se despedido e ia em direção ao carro quando eu abri a porta de casa num ímpeto e gritei: “Clara!” Ela se virou, o cenho franzido, e perguntou o que era.
- Você tinha um jardim aqui. E um cachorro que brincava nele.
Então seus olhos, sempre secos, encheram d’água que começou a escorrer pela face sardenta tão rapidamente que eu tive a certeza de que ela estivera segurando o choro o tempo todo. Aqueles olhos molhados que eu havia imaginado por cinco anos porque nunca a tinha visto chorar, aqueles olhos que eu imaginava que só fossem ficar úmidos no dia em que ela finalmente me deixasse pingar algumas gotas de colírio. Soltou um soluço baixo, secou ligeiramente o rosto e sorriu um sorriso cansado.
- Eu sei...
Foi embora, o corpo pequeno e pálido contrastando com o vestido verde escuro. Dez anos depois eu tive notícias de Clara, casada e com um filho de seis anos. Nunca mais voltou: uma vez que havia chorado na minha frente, nós dois sabíamos que ela deixara-se ser tão completamente que não poderia voltar a me encarar.
por Aurora Guimarães
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Teus Lábios.
Mas aos poucos, tudo foi escurecendo. Na imensidão negra, vaguei sem rumo.
Nadei no mar azul, que se formou com minhas próprias lágrimas.
Foram tempos difíceis, lutando contra as ondas salgadas, que escorriam de meus olhos castanhos.
Porém, um dia, tudo amanheceu melhor.
Abri a janela. A luz do sol, arrebatadora, invadiu minha alma. Meus olhos esverdearam-se. A esperança voltou a abrigar o corpo daquela que se perdeu da vida; que se mostrou, até então, menos do que é verdadeiramente.
O abraço apertado de um outro alguém, me conforta agora. Só muito depois é que vem a saudade, a boca vermelha, o beijo molhado.
domingo, 18 de abril de 2010
Será o fim?
Se dizem que não foi por causa de mim, fico feliz. Mas não pensaram em mim, isso é claro.
Alguma pode ter se sentido traída, o que, realmente, não é nem um pouco agradável; e eu sei disso como ninguém, com certeza.
Todas as amizades tem seus altos e baixos. Desde o começo, já sabíamos que, algum dia, haveria um briga. É, chegou a hora de enfrentarmos as garras da tristeza, da raiva, da decepção.
Porém, eu considero não ter brigado com ninguém. Na verdade, nem sei da onde tudo começou.
Acima de qualquer coisa, sempre amarei todas vocês. E, se conseguimos enfrentar isso, será um sinal da amizade pura e verdadeira.
Tudo depende absolutamente de nós.
E, na minha opinião, agora, ao invés de nos afastar, deveríamos nos unir ainda mais. Estamos todas em uma fase difícil; nos adaptando com as mudanças; nos acostumando com as novas circunstâncias.
Se esse afeto, tão grande e bonito, que une nós cinco, se acabar agora, quero que saibam que eu não pretendo me afastar de nenhuma.
Sinceramente, acho que tudo o que foi dito por mim até agora, foi prudente. Mas, se em algum momento, acabei ferindo a alguém, peço desculpas.
Deixemos então, que nossos corações nos ajudem a decidir as coisas. Vamos conversar, e espero que fique tudo bem... Afinal, foi o que prometemos, umas às outras: união e amor eterno, independente de alguma briga que possa ocorrer.
domingo, 11 de abril de 2010
sábado, 10 de abril de 2010
O que chamo de saudade.
Nos ensinou o que é uma família; o que é amar; o que é batalhar por tudo aquilo que desejamos.
Com ele aprendemos o que é ser uma pessoa de verdade.
Embarcamos todos na ondas da leitura; do saber; do ser. Sempre juntos, no mesmo barquinho. Ele remando na frente, e nós, unidos atrás, fazendo o possível para ultrapassar a correnteza.
Foi longa a nossa jornada; mas não tanto quanto pensamos que seria...
Agora resta a saudade. Também não podemos esquecer da amizade que conquistamos, e é algo que ficará para sempre! Nos tornamos realmente uma família.
Tudo que ele disse, desde a primeira até a última aula, está guardado em nossas mentes e em nossos corações.
Os braços da lembrança me embalam. Sua voz a soar em minha mente, e de repente: uma lágrima. Algo que acontece constantemente...
A partir de agora, estaremos em nosso barquinho sem o membro mais importante da família, que costumava nos guiar... A correnteza é cada vez mais forte. Tentamos sempre fazer a escolha certa, agora sem ele para nos orientar, o que torna tudo mais difícil.
Mas estamos sempre tendo que nos acostumar com situações novas. Um dia nos acostumaremos com esse espaço, agora vazio, em nossos corações, mas até lá, tem um longo caminho a ser percorrido. Por enquanto somos nós e a saudade.
Para o melhor professor e amigo do mundo: Luiz Carlos Dias.
Fevereiro de 2010.