quinta-feira, 10 de junho de 2010

[...]
- eu não disse que não iria.
- mas também não falou que ia.
- sim, não falei, mas isso não implica em não ir.
- então porque não falou?
- porque eu não quis.
- uau, tu nunca queres nada.
- eu quero.
- o que você quer?
- quero poder fazer com que tu entendas que eu quero ir.
- porque veste essa armadura toda?
- que armadura?
- essa, junto dessa pose de "você quem sabe".
- mas realmente és tu quem sabe.
- olha, eu não sei de nada, porque eu nunca fico sabendo de verdade qual é a tua vontade.
- então deixa eu te mostrar?
- mostrar o que?
- a minha vontade que tu não consegues ver.
- eu não quero que tu me mostres nada.
- ah é? Mas mesmo assim eu quero te mostrar.
- interessante como o teu querer aparece do nada.
- o meu querer ta sempre aqui. É uma pena que tu não saibas disso.
- ...
- Ta, não adianta me olhar com essa cara de cachorro molhado. Tu que começaste.
- É, fui eu quem começou.
- ah, ironia essa hora do dia não é nada agradável.
- po, tem hora certa pra ironia também? Não, porque, pra ti as horas são todas medidas e remedidas.
- eu meço as horas do meu dia, pra que sobrem horas a mais pra eu te ter nos meus braços por mais tempo.
- se você acha que vai me amolecer com essas frases românticas, vai tirando o teu cavalo da chuva.
- eu não tenho cavalo.
- tira o teu cachorro da chuva.
- amor, nós não temos cachorro, lembra? Optamos por ter um apartamento só pra nós.
- tu estás me irritando.
- tu ficas ainda mais linda quando irritada.
- vou te mostrar quem é linda.
- mostra, vai.
- ai, cala a boca.
- calo sim, mas só com um beijo teu.
- vem cá, tu não vai parar?
- não paro se não quiser.
- eu acho incrível como tu misturas as coisas.
- mas eu não estou misturando nada.
- porque fica querendo me ganhar com esse teu jeito irresistível?
- ah, porque você me ama.
- e você não?
- não.
- mas...
- não, eu não me amo, eu te amo.
- sem graça.
- É, às vezes eu tenho vontade de te jogar pela janela, de tão sem graça que tu és.
- e porque não joga?
- porque além de entrar em cana, eu ficaria sem o amor da minha vida. E tu, porque não deixas de querer saber dos por quês?
- porque... Porque eu não sei.
- eu sei.
- tu sabes?
- sei.
- do que tu sabes?
- sei que tu estas querendo um beijo meu.
- sabes nada.
- vais negar?
- claro que vou.
- até assim, na orelha?
- na orelha já é um começo.
- ah é? E aqui, no pescoço?
- para com isso.
- aaaaahhhhhhh
- bbbbbbbbb
- tu és tão chata, mas eu te amo, sabia?
- eu sei.
- hahaha
- ta rindo do que?
- da tua cara
- tenho cara de palhaça?
- olha...
- não responde!
- certo, certo.
- vem, me da um beijo logo.
- ta querendo um beijo agora?
- to sim.
- um é muito pouco.
- eu sei, mas inicia ai, que eu sigo com todo o resto.
- a tua boca tem cheiro de mel.
- a sua tem cheiro de creme dental.
- hahaha. Eu escovei os dentes antes de entrar no quarto.
- a tua voz é doce.
- tu já me disseste isso.
- deixa...
- sabe o que eu mais gosto na gente?
- o quê?
- o modo como as coisas se ajeitam rapidinho, como as coisas não têm o tamanho que deveriam ter... Digo, nas “brigas”. Até parece que sempre é a primeira semana de namoro.
- É porque o amor é maior do que qualquer outra coisa, principalmente se for relacionado a essas "brigas" baratas
- o nosso amor é maior do que qualquer coisa.
- é sim. Mas vem logo, não me enrola, me beija logo.
- só se eu puder ver os teus olhos se fechando.
- é só ficar com os olhos abertos.
- não vais ficar brava?
- não fico nunca.
- nunca é muito, hein.
- é muito sim.
- ...
- se um dia tu resolveres que não quer mais morar comigo nesse apartamento, tu leva contigo esses nossos momentos?
- se um dia eu resolver que não quero mais morar contigo nesse apartamento, vai ser porque eu quero comprar um melhor pra gente morar.
- eu te amo.
- eu também. Mas, afinal, é para eu ir ou não?

Por Aurora Guimarães.

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