quarta-feira, 30 de junho de 2010

Acontece...

Acontece que eu já não sei mais amar. Acontece que o medo de errar entranhou o meu coração – que outrora jorrava sangue a todo meu corpo, e agora ficou duro e frio – e eu já não consigo mais me aproximar de ti. Pois não, não quero errar! Não, não sei ainda aprender com os meus erros. Observar os erros dos outros é melhor, me faz aprender sem sofrer, pois meu coração é duro e frio agora, lembra-se?
Eu notei que amar é sofrer. No meu caso. Porque, acontece que eu amo demais... Agora, na verdade, não mais.
Acontece que eu troquei você – meu vício –, pela estranha mania de pronunciar em voz alta, pequenas palavras de trás para frente e ver como ficam esquisitas.
Você é esquisito, como as palavras de trás para frente. Mas me confortava.
Acontece que, toda vez que eu te via, eu chorava sorrindo. Chorava porque sabia que sofreria a partir dali. Sorria porque você era o amor da minha vida.


Acontece que o meu coração ficou duro, frio, morto.

sábado, 12 de junho de 2010

Apenas bons devaneios.

"Minha cabeça dói e meus dedos já estão calejados”, eu disse, “mas ainda assim, escrevo, pois minha mente borbulha".
"Hoje não vou tentar articular nada. A arte não tem questão, vou deixar minha mão escrever mesmo que ela pese", disse Aurora, "esses meus pontos de tensão estão doendo. Escrevo, apago, paro, vírgula, ponto".
Uma noite movida a chocolate. Chocolate com recheio de amora. Delícia, não?
"Não. Delícia é saber que quando sair ao relento, poderá contar com aquele agasalho que tem o cheiro que você tanto ama. O cheiro do homem que tanto ama. Não um homem qualquer, mas o seu homem; aquele que vai te abraçar e dividir contigo o chocolate com recheio de amora", disse eu.
"Por que choras?", me perguntam.
"Porque quero, apenas. Porque sinto vontade. Assim como posso sentir vontade de sorrir. Afinal, quem precisa de um motivo concreto para colocar-se no estado de felicidade ou tristeza?", respondo.

-Estou indo dormir, um beijo.
-Durma, meu bem. Mas, reze para que acorde sonhando amanhã de manhã. Para que possa acreditar que tudo é uma grande verdade: os raios do sol, os pássaros a cantar, as nuvens, o azul do céu, a brisa macia. Pois, se tu acordas, passa a ser uma alma perdida do teu corpo, da tua carapaça. Se acordares, querida, do teu sonho profundo, do teu devaneio, que te mantém neste falso mundo, serás apenas mais uma alma; flutuarás no universo sem fim, sem sentimento, sem rumo, sem propósito.



(Apenas devaneios de uma madrugada fria).

quinta-feira, 10 de junho de 2010

[...]
- eu não disse que não iria.
- mas também não falou que ia.
- sim, não falei, mas isso não implica em não ir.
- então porque não falou?
- porque eu não quis.
- uau, tu nunca queres nada.
- eu quero.
- o que você quer?
- quero poder fazer com que tu entendas que eu quero ir.
- porque veste essa armadura toda?
- que armadura?
- essa, junto dessa pose de "você quem sabe".
- mas realmente és tu quem sabe.
- olha, eu não sei de nada, porque eu nunca fico sabendo de verdade qual é a tua vontade.
- então deixa eu te mostrar?
- mostrar o que?
- a minha vontade que tu não consegues ver.
- eu não quero que tu me mostres nada.
- ah é? Mas mesmo assim eu quero te mostrar.
- interessante como o teu querer aparece do nada.
- o meu querer ta sempre aqui. É uma pena que tu não saibas disso.
- ...
- Ta, não adianta me olhar com essa cara de cachorro molhado. Tu que começaste.
- É, fui eu quem começou.
- ah, ironia essa hora do dia não é nada agradável.
- po, tem hora certa pra ironia também? Não, porque, pra ti as horas são todas medidas e remedidas.
- eu meço as horas do meu dia, pra que sobrem horas a mais pra eu te ter nos meus braços por mais tempo.
- se você acha que vai me amolecer com essas frases românticas, vai tirando o teu cavalo da chuva.
- eu não tenho cavalo.
- tira o teu cachorro da chuva.
- amor, nós não temos cachorro, lembra? Optamos por ter um apartamento só pra nós.
- tu estás me irritando.
- tu ficas ainda mais linda quando irritada.
- vou te mostrar quem é linda.
- mostra, vai.
- ai, cala a boca.
- calo sim, mas só com um beijo teu.
- vem cá, tu não vai parar?
- não paro se não quiser.
- eu acho incrível como tu misturas as coisas.
- mas eu não estou misturando nada.
- porque fica querendo me ganhar com esse teu jeito irresistível?
- ah, porque você me ama.
- e você não?
- não.
- mas...
- não, eu não me amo, eu te amo.
- sem graça.
- É, às vezes eu tenho vontade de te jogar pela janela, de tão sem graça que tu és.
- e porque não joga?
- porque além de entrar em cana, eu ficaria sem o amor da minha vida. E tu, porque não deixas de querer saber dos por quês?
- porque... Porque eu não sei.
- eu sei.
- tu sabes?
- sei.
- do que tu sabes?
- sei que tu estas querendo um beijo meu.
- sabes nada.
- vais negar?
- claro que vou.
- até assim, na orelha?
- na orelha já é um começo.
- ah é? E aqui, no pescoço?
- para com isso.
- aaaaahhhhhhh
- bbbbbbbbb
- tu és tão chata, mas eu te amo, sabia?
- eu sei.
- hahaha
- ta rindo do que?
- da tua cara
- tenho cara de palhaça?
- olha...
- não responde!
- certo, certo.
- vem, me da um beijo logo.
- ta querendo um beijo agora?
- to sim.
- um é muito pouco.
- eu sei, mas inicia ai, que eu sigo com todo o resto.
- a tua boca tem cheiro de mel.
- a sua tem cheiro de creme dental.
- hahaha. Eu escovei os dentes antes de entrar no quarto.
- a tua voz é doce.
- tu já me disseste isso.
- deixa...
- sabe o que eu mais gosto na gente?
- o quê?
- o modo como as coisas se ajeitam rapidinho, como as coisas não têm o tamanho que deveriam ter... Digo, nas “brigas”. Até parece que sempre é a primeira semana de namoro.
- É porque o amor é maior do que qualquer outra coisa, principalmente se for relacionado a essas "brigas" baratas
- o nosso amor é maior do que qualquer coisa.
- é sim. Mas vem logo, não me enrola, me beija logo.
- só se eu puder ver os teus olhos se fechando.
- é só ficar com os olhos abertos.
- não vais ficar brava?
- não fico nunca.
- nunca é muito, hein.
- é muito sim.
- ...
- se um dia tu resolveres que não quer mais morar comigo nesse apartamento, tu leva contigo esses nossos momentos?
- se um dia eu resolver que não quero mais morar contigo nesse apartamento, vai ser porque eu quero comprar um melhor pra gente morar.
- eu te amo.
- eu também. Mas, afinal, é para eu ir ou não?

Por Aurora Guimarães.