segunda-feira, 17 de junho de 2013

De Sóis e Quintais

Absorta nas próprias ideias, ela soprou
E do sopro fez-se abrir de olhos
E dos olhos fez-se convite à entrega 
                                         Ao mergulho
                                          A ser 
                                            A sonhar
                                             A brincar e desejar
Brincar de ser dois por desejar ser mais 
Ser, depois, verdade em dois
Pra desenhar três sóis
                    Tais quais meu, seu e nosso.
Se perder em caracóis
Ao dormir, sonhar com o mesmo cais
Onde atracou o primeiro poema de amor
                                       Trazido por garrafa e sal
Saudando sóis e casais: saudando o inteiro de nós
Pra deitarmos em nossos quintais
Absortos no pensamento fulgaz
                         Soprando por toda parte de nós
                                               Encaracolando mais e mais


quarta-feira, 29 de maio de 2013

E a contagem do tempo caindo no esquecimento por tanto parecer muito mais do que sempre.
E o humor seu sendo em mim.
Seja você longe ou assim.
Cola aqui, meu ombro é pra você – parte de um inteiro resultante da soma do que em nós é nosso.
Ao pé do ouvido cada pêlo escuta e arrepia.
Abraço infinito: quero um sorriso nosso debruçado na eternidade do ser e estar em tempo presente, fiel, indecente de sentirmo-nos tanto como um só.
Vejo-lhe: desenho em pensamento, corpo feito de serena-intença contradição do real ser.
Real que já era sem ao menos ser, e no entanto sempre houvera sido.
Sem saber, e no entanto sempre houvéramos sabido.
É isso: eu sei.
Sabemos?
Dedilha suas notas de “sim”.
Me fala com seus olhos, que eu ouço com os meus.




domingo, 19 de maio de 2013

Até então, era de longe.





E de longe parece que soprei ao teu ouvido a minha vontade de te conhecer.

E vamos no passo em que meus passos viram teus
E teus traços transferem-se todos a mim
No embaraço de cabelos e braços e abraços
Te gosto um imenso tanto, te gosto, enfim
E teu gosto infinito de querer
Sorriu em cores o outono
Outono nosso
Vivo outono agora e sempre

Deixa que eu te vista de mim
Que eu deixo que tu me vistas de ti
Num acorde simples de fás sustenidos
Sibemóis
Ou teu casaco com o cheiro de nós dois

Faz-se tão sempre a presença agora:
Não mais de longe.



Puramente Semi-concreto.

Suplico por paixão de apneia:
 M
    e
       r
         g
            u
               l
                 h
                   a
                      r
                         P
                            r
                              o
                                 f
                                   u
                                      n
                                         d
                                            o.
                                                .
                                                   . Pudor pra quê?
                                                   
Porta semi-aberta
Poesia semi-concreta
     
     palco
Ser       ou ser
                      plateia:
Ser paixão de apneia.





quarta-feira, 14 de novembro de 2012

(Ir)racional.

Mesmo que sem intenção de ser, persiste ainda o existir.

Mesmo que o agora seja amanhã, ou depois,

claramente sempre é.

Por motivo singelo, inignorável e objetivo:

é pra ser.

Mesmo que haja o tardar - com dúvidas de assim melhor ser -, 

faz-se impossível impedir que seja.

Aquilo que sempre foi e sempre será - aquilo que é.


Abrandamento, teimosia: proteção?


Racionalmente certo.


Entretanto, irracional é também: alternância, oscilação.


Deixar falar o coração, 

ver no que dá: - deu em quê?: sempre houvera sido;
assim, portanto, há de ser.

E seja lá da forma que for,

ser-nos-á sempre o amor.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Morenice de jabuticabeira.

Acomodava-se, morenice de jabuticabeira
banhando-se aos feixes de luz:
Pendiam eles desiguais por seus ombros
como ramos primaveris em pleno desabrochar.

Erguia-se, então, em meia ponta de desejo
e, ouvido adentro, acomodava sussurro quente,
quase cantarolado:
“Chega de saudade”.
Sussurro do qual se fez vermelhidão abrasadora.

Da boca, fez-se gosto doce,
gosto doce de jabuticaba.
Dos braços, fez-se entrelaço,
entrelaço de aconchego.

“Chega de saudade”
repetia, como se deve ser, morenice de sempre farta jabuticabeira.



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Do verbo "haver".

Há quem chegue de mansinho e cordialmente nos tatue sorrisos sem prévia permissão.
Sorrisos esses os mais lindos:
Espontâneos.

Há voz que nos ilumine manhãs.
Gestos que nos iluminem olhos.
Poesia que nos ilumine a vida.

Há quem nos cative inesperadamente.

Há quem assim seja.

Não obstante, há de ter sorte quem lhe encontra.
E ainda mais sorte, quem por esse se deixa encontrar.

Sabe, senhor, o ‘gostar’ não se explica assim facilmente.
E é a minha verdade: te gosto inexplicável.
Te gosto indescritível, inenarrável, inalcançável.

Tu que entoastes a mim lindo cântico, agora sou eu quem a ti entoa:

“[...]
Venha, vamos botar o pé no chão
S’embora que a vida é curta
O caminho é longo, meu irmão
[...]
Venha, vamos botar o pé no chão
S’embora que a vida é dura
O caminho é torto, meu irmão
[...]
Nessa terra, nesse céu
Quem é mais conhecedor?
Só o senhor é bacharel!

Somos a tripulação
Quem é mais navegador?
Só o senhor é capitão!”