Deixei minha sopa ali de canto, esfriando. Encaixei
novamente os fones nos ouvidos. Voltei a escutar aquela música que me remete a
ti.
Talvez nem te recordes mais, todavia a
cantamos juntos, naquele dia. E elogiastes minha voz.
Senti um calor que vem de dentro pra fora e
bem soube o quão rubras haveriam de estar minhas bochechas.
Permaneci calada, como costumo fazer quando
fico sem graça.
Apenas continuei observando a luz
atravessar a janela meio suja, e desenhar suavemente teus contornos em belos
traços.
Lembro-me de dizeres, assim de relance, que
ao ouvir aquela música, lembravas de mim.
Achei engraçado. Afinal, muito antes disso,
escuta-la já me remetia a cada cantinho teu – os que conheço, até então. - Como disse ali no começo.
Ri baixinho. Espiei de canto teus olhos
concentrados. Senti uma vontade quase que incontrolável de abraçar-te.
Quase. Quase...
Sempre o "Senhor Quase".
Falando nisso, minha sopa já deve estar
quase na temperatura perfeita.
Acho interessante observar a fumacinha
branca e cheirosa subindo. Uma imagem um tanto quanto inspiradora e charmosa, na
minha opinião.
É, tu bem sabes que meus níveis de
normalidade não são lá muito altos... Ao contrário de meus níveis imaginativos.
Eu sonho acordada.
Um passarinho me contou que tu sonhas também.
Mas, afinal, quem não?
Presto atenção nos teus relances. Mais do
que imaginas. Muito mais.
Por que é tão complicado certas coisas saírem
como o não-planejado?
Não é fácil admitir, mas eu sinto ciúmes de
ti.
Prometo que é um ciúmes bonito, ta?
Parece que quando eu desaprendo, tu me
ensinas novamente.
Mesmo que não saibas.
Sonho bobamente com alguém me chamando de "Morena",
e dizendo que "ta tudo bem". Juro que sonho.
Queria – quero! – poder ver esse alguém em
ti.
E nós dois aconchegados um no outro,
vendo aquele filme.
E cantando aquela nossa música. Que agora
insisto em escutar freneticamente.
Ai, merda, minha sopa esfriou demais.
Enfim, tenho tido a certeza de que és tu
esse alguém.
Não obstante, me pergunto: quem és tu?