à procura da alegria
que apenas se sente - não se explica
os olhos profundos de súplica
pelo deleite de prazer incomparável
na precoce abundância de possibilidades
o pulso firme, os lábios frágeis
[A ordem dos ''versos'' desse ''texto/poesia'' está na forma originalmente escrita por mim. Não há pontuação justamente com o intuito de que os leitores possam ''brincar'', alterando a ordem dos ''versos'' e fazendo diversas interpretações conforme as alterações que forem feitas. De praticamente todas as formas, fará sentido - e todos sabem como amo isso!]
domingo, 15 de maio de 2011
sábado, 16 de abril de 2011
Quanto riso, ah, quanta alegria.
O calor da lareira adentrando as cobertas num sussurro macio. O suor docemente escorrendo por entre os dedos; o piscar de cílios diante dos lábios rosados, dilatados, envolvidos pela sutileza arrebatadora de meias palavras muito bem ditas. Os braços envoltos no acelerado bater do coração. Os olhares congelantes, os beijos abruptamente lançados com carinho sobre a carne, que pulsa, sentindo-se mais humana. Corpos que se encontram, se encaixam no ritmo carinhosamente bruto de duas almas cheias de mãos indo na direção que, mais tarde, descobre-se – o coração. Bem no alvo. Em cheio. Cheio de dúvidas e de certezas... A sensibilidade que se demonstra, mesmo que essa não seja exatamente a intenção. Dias que pularam sobre nossas cabeças, se arrastaram por debaixo de nossos pés, escorregaram suados por entre os nossos dedos. Frestas abertas, reencontro marcado, o assobio da dúvida – mas a certeza de que tudo está muito bem guardado. Em nossas mentes, as lembranças pregadas como as mais lindas estrelas no céu noturno de Carnaval. Os detalhes sórdidos ficam cá, entre nós. O retrato dependurado em minha cabeceira – memórias de dias infinitos que voam numa brisa chamada adeus.
sábado, 8 de janeiro de 2011
Aurora e os pingos de chuva.
Fim de tarde, carro sobre o asfalto. Chuva caindo, Aurora observando.
Com a cabeça recostada no vidro, era como se tudo girasse ao seu redor. Girasse até sumir.
Agora estavam ali, só ela e os pingos a brincar na janela.
Só Aurora e a chuva. A chuva e Aurora.
Aurora crescera no cerrado. Agora estava indo de encontro com a vida na cidade - onde o suor escorre entre os dedos, deixando escapar tudo o que vivemos lá atrás.
Por mais que fosse viver, agora, com sua família, que tanto lhe quer bem, era como se estivesse abrindo mão de uma parte de si - talvez a parte mais importante.
Era como se seu coração tivesse caído do caminhão de mudança, e agora não houvesse mais como resgatá-lo.
Mas Aurora sempre fora otimista.
Sabe tirar proveito de suas qualidades.
Sabe até, não sei como, esconder perfeitamente o que sente, por detrás de seus grandes olhos - os quais ainda não se decidiram por serem azuis ou verdes.
Sempre se contentou com aquilo que teve.
Ou melhor: sempre amou incondicionalmente tudo aquilo que um dia lhe pertenceu. Mesmo que temporariamente.
Aos sete anos, sonhava em pintar o céu de rosa.
Aos oito anos e cinco meses, rosa embrulhava-lhe o estômago.
Sua mãe ria-se. A indecisão sempre fizera parte de sua filha. Ela sabia disso.
Aurora vai longe. Literalmente. Desde sempre.
Com sua decidida indecisão. Sua indecisa decisão.
Corria ao telefone, geralmente uma vez ao mês, para falar com sua avó, suas tias, sua priminha seis anos mais nova, cheia de cachinhos na cabeça.
Para ela, escutar a voz - apenas a voz já basta - de pessoas queridas, é confortável o bastante, a ponto de fazê-la deixar de lado a suprema indecisão, e deicidir, de uma vez por todas, amar sua vida.
Ela também escrevia cartas, de vez em quando. Digo, até certa idade.
O fato, é que Aurora cresceu.
Indecisamente, cresceu transbordando de decisões.
Decididamente, cresceu levando indecisões dos pés à cabeça.
Cresceu por um lado. Por outro, continua, até hoje, a mesma menina que sonhava em pintar o céu de rosa. Ou sonha, sei lá, vai saber...
Afligiu-a, durante algum tempo, o fato de saber que, um dia, teria de voltar para a cidade grande, onde nascera.
Mas sempre parecia que esse dia estava longe demais.
Até que, inesperadamente, ele chegou.
Agora, ela e os pingos. Os pingos e ela.
A cabeça recostada no vidro. Ela indo, os pingos vindo.
Aurora, com seus olhos - indecisos, assim como ela -, a observar a dança da chuva. Os pinguinhos a bailar pelo vidro. Todos vindo em sua direção.
Placas e faróis desfocados. Aurora estava concentrada em seu jogo imaginário. Somente em seu jogo, mais nada.
De explicação complexa (ou muito simples - depende de seu ponto de vista e de seu grau de fertilidade imaginária), o jogo de Aurora funciona basicamente assim:
Um pinguinho pequenino, a bailar pelo vidro, junta-se, ao longo de seu trajeto, com outros pingos pequeninos, perdidos na imensidão transparente do vidro de um carro. A junção dos pinguinhos, resulta num pingo gordinho. (Aurora adora dizer isso - ''pingo gordinho''). O qual, será levado pelo vento, em sua dança pesada e um tanto mais lenta, comparada à dos pingos pequeninos; afinal, agora ele é um senhor pingo gordinho, que cumpriu perfeitamente com seu papel no jogo de Aurora.
É muito simples imaginar, quando se é criança, coisas como essa durante uma viagem chuvosa de carro.
Aurora, apesar dos anos de vida já vividos, ainda carrega consigo a imaginação de uma criança. Isso é a única coisa que seus olhos deixam transparecer facilmente.
Pingos. Vidro. Bochechas.
Olhos. Atenção. Indecisão.
Vento. Assobio. Aflição.
Música. Dúvida. Apreensão.
Os olhos de Aurora, para mim, são muito transparentes.
Tanto quanto o vidro de um carro que acaba de sair do lava-rápido. Ou tomar banho de chuva e brincar com os pinguinhos. Essa é a verdade.
Sem reticências, pausas ou indecisões, é, simplesmente, a verdade.
Com a cabeça recostada no vidro, era como se tudo girasse ao seu redor. Girasse até sumir.
Agora estavam ali, só ela e os pingos a brincar na janela.
Só Aurora e a chuva. A chuva e Aurora.
Aurora crescera no cerrado. Agora estava indo de encontro com a vida na cidade - onde o suor escorre entre os dedos, deixando escapar tudo o que vivemos lá atrás.
Por mais que fosse viver, agora, com sua família, que tanto lhe quer bem, era como se estivesse abrindo mão de uma parte de si - talvez a parte mais importante.
Era como se seu coração tivesse caído do caminhão de mudança, e agora não houvesse mais como resgatá-lo.
Mas Aurora sempre fora otimista.
Sabe tirar proveito de suas qualidades.
Sabe até, não sei como, esconder perfeitamente o que sente, por detrás de seus grandes olhos - os quais ainda não se decidiram por serem azuis ou verdes.
Sempre se contentou com aquilo que teve.
Ou melhor: sempre amou incondicionalmente tudo aquilo que um dia lhe pertenceu. Mesmo que temporariamente.
Aos sete anos, sonhava em pintar o céu de rosa.
Aos oito anos e cinco meses, rosa embrulhava-lhe o estômago.
Sua mãe ria-se. A indecisão sempre fizera parte de sua filha. Ela sabia disso.
Aurora vai longe. Literalmente. Desde sempre.
Com sua decidida indecisão. Sua indecisa decisão.
Corria ao telefone, geralmente uma vez ao mês, para falar com sua avó, suas tias, sua priminha seis anos mais nova, cheia de cachinhos na cabeça.
Para ela, escutar a voz - apenas a voz já basta - de pessoas queridas, é confortável o bastante, a ponto de fazê-la deixar de lado a suprema indecisão, e deicidir, de uma vez por todas, amar sua vida.
Ela também escrevia cartas, de vez em quando. Digo, até certa idade.
O fato, é que Aurora cresceu.
Indecisamente, cresceu transbordando de decisões.
Decididamente, cresceu levando indecisões dos pés à cabeça.
Cresceu por um lado. Por outro, continua, até hoje, a mesma menina que sonhava em pintar o céu de rosa. Ou sonha, sei lá, vai saber...
Afligiu-a, durante algum tempo, o fato de saber que, um dia, teria de voltar para a cidade grande, onde nascera.
Mas sempre parecia que esse dia estava longe demais.
Até que, inesperadamente, ele chegou.
Agora, ela e os pingos. Os pingos e ela.
A cabeça recostada no vidro. Ela indo, os pingos vindo.
Aurora, com seus olhos - indecisos, assim como ela -, a observar a dança da chuva. Os pinguinhos a bailar pelo vidro. Todos vindo em sua direção.
Placas e faróis desfocados. Aurora estava concentrada em seu jogo imaginário. Somente em seu jogo, mais nada.
De explicação complexa (ou muito simples - depende de seu ponto de vista e de seu grau de fertilidade imaginária), o jogo de Aurora funciona basicamente assim:
Um pinguinho pequenino, a bailar pelo vidro, junta-se, ao longo de seu trajeto, com outros pingos pequeninos, perdidos na imensidão transparente do vidro de um carro. A junção dos pinguinhos, resulta num pingo gordinho. (Aurora adora dizer isso - ''pingo gordinho''). O qual, será levado pelo vento, em sua dança pesada e um tanto mais lenta, comparada à dos pingos pequeninos; afinal, agora ele é um senhor pingo gordinho, que cumpriu perfeitamente com seu papel no jogo de Aurora.
É muito simples imaginar, quando se é criança, coisas como essa durante uma viagem chuvosa de carro.
Aurora, apesar dos anos de vida já vividos, ainda carrega consigo a imaginação de uma criança. Isso é a única coisa que seus olhos deixam transparecer facilmente.
Pingos. Vidro. Bochechas.
Olhos. Atenção. Indecisão.
Vento. Assobio. Aflição.
Música. Dúvida. Apreensão.
Os olhos de Aurora, para mim, são muito transparentes.
Tanto quanto o vidro de um carro que acaba de sair do lava-rápido. Ou tomar banho de chuva e brincar com os pinguinhos. Essa é a verdade.
Sem reticências, pausas ou indecisões, é, simplesmente, a verdade.
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